tag:blogger.com,1999:blog-311466152024-03-08T00:06:34.925-03:00"Contos De Fleming"Contos de Fleming, Por quê?
Uma homenagem ao brilhante personagem Rob Fleming, criado pelo escritor inglês Nick Hornby no livro Alta Fidelidade.
Mas e esse blog???
Contos descompromissados, fictícios e com uma leve inspiração na realidade...Unknownnoreply@blogger.comBlogger29125tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-25489312489804038162015-06-03T19:32:00.002-03:002015-06-03T19:33:17.506-03:00Cecília<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-pEgVgZbNzY6iNcBNKsk-PtskwCdnoedQSmK-j7yQMQO92n0gbaCn8cS127KQ1mbPhba-Fgxjmq6tUcZeVjBDBaVBYSj7XzfC8epshQogRQv674RAyz2-0VwcPzcDWMif2LNh/s1600/11390058_830982100304444_183793359291621227_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-pEgVgZbNzY6iNcBNKsk-PtskwCdnoedQSmK-j7yQMQO92n0gbaCn8cS127KQ1mbPhba-Fgxjmq6tUcZeVjBDBaVBYSj7XzfC8epshQogRQv674RAyz2-0VwcPzcDWMif2LNh/s400/11390058_830982100304444_183793359291621227_n.jpg" width="382" /></a></div>
<br />
<b><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Por Rafael Pesce</span></b><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><b>* Ilustração: Daniel Gonçalves</b> </span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Pela pequena janela circular o sol adentrava naquele sótão. Minúsculas
partículas de poeira trafegavam pela luz, como se estivessem sendo
abduzidas para o mundo exterior. Uma cama, desnuda de lençóis e sem o
ranger das precárias estruturas de ferro, estava localizada logo na
entrada. Um pônei de madeira jazia, imóvel, no outro lado, sem ter mais
com quem brincar. A caixa de música, que costumeiramente enchia o
ambiente de alegria, trancava-se em solidão. As roupas, antes banhadas
pela claridade e pelo vento, estavam esquecidas em um velho armário. Os
brinquedos, jogados de forma aleatória, tornavam o chão irregular. Mas
no centro de tudo estava ela, Cecília, abandonada pela vida e pela
sanidade do pai, que a deixou na escuridão daquele baú.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-24829376866639004382014-08-30T13:41:00.000-03:002014-08-30T13:41:08.944-03:00O Cemitério de Ideias<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPDonTPtACDDJeRjovfm6TNRLgptfPEhN2MxOTMQRHSV6Grzj6LldKA6cwxLU7aeqtfeeFu9wqcJpfIsAcic8EqwKNwxtPCmW5eFlwSNvalrX2I48HuaMST5vPZgycdCcSUB0y/s1600/NAPAD_hafaell.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPDonTPtACDDJeRjovfm6TNRLgptfPEhN2MxOTMQRHSV6Grzj6LldKA6cwxLU7aeqtfeeFu9wqcJpfIsAcic8EqwKNwxtPCmW5eFlwSNvalrX2I48HuaMST5vPZgycdCcSUB0y/s1600/NAPAD_hafaell.jpg" height="400" width="281" /></a></div>
<br />
<b>Por Rafael Pesce</b><br />
<b>* Ilustração: Hafaell Pereira</b><br />
<br />
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<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O ano era 2556. O clima na sala do Imperador Drextos
II era de tensão. À frente do trono, cravejado por diamantes roxos, estava uma
mesa redonda, onde os mais importantes generais, cientistas e conselheiros
imperiais estavam sentados. A ausência de som foi quebrada quando o Imperador
levantou-se. O ouro da extravagante túnica chacoalhou, interrompendo o mórbido silêncio.
Foi o sinal que todos esperavam. Em um grito uníssono todos bradavam com a mão
em sinal de continência: Vida longa ao Imperador! Vida longa ao Imperador! Vida
longa ao Imperador!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Quietos! Já chega seus vermes! Já faz quase um ano
que estamos no meio dessa guerra contra essa horda de rebeldes que insiste em
não reconhecer o meu poder absoluto. Convoquei essa reunião para acabar de vez
com a baderna que insiste em atrapalhar meus planos. Eu exijo uma solução
imediata para este problema! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O primeiro a se levantar foi o General Horxos,
responsável pelo comando de todas as tropas imperiais. Entre uma gaguejada e
outra encontrou coragem para se manifestar:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Oh co-co-comandante supremo. Eu, eu...já não sei
mais o que fazer. Mando diariamente nossas tropas combaterem esses insurgentes,
mas quanto mais lutamos mais o inimigo parece se fortalecer. Não importa o que
façamos, os rebeldes parecem sempre estar um passo a nossa frente. Eles não têm
medo, não desistem nunca. Usamos toda nossa força, todo nosso arsenal e parece
que nada os faz desistir. Eles não são simples homens, não sei o que os faz
continuar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Tolo! – respondeu o Imperador. Eu não convoquei
esta reunião para escutar desculpas. Estou aqui para ouvir uma solução. Se eles
não entendem por bem a necessidade de nossos altos impostos, que entendam por
mal. Saia daqui, insolente! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Horxos não teve tempo suficiente para abandonar o
recinto. Um gesto foi suficiente para que dois soldados, que até então
permaneciam imóveis na entrada, atravessassem suas lanças laser nos pulmões do
agora ex-general. As risadas de Drextos II ecoaram sozinhas pela sala. O encontro
então prosseguiu:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Trevor, você era o segundo em comando. O controle de
nossas tropas agora está em suas mãos. O que você pretende fazer para retomar a
ordem?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O novo General em nada lembrava seu antecessor. Era
uma pessoa confiante, que não demonstrava medo e não evitava o olhar penetrante
do Imperador. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Grato pela oportunidade de mostrar o meu valor, oh
grande Imperador Galáctico! Como todos sabem, temos um arsenal muito mais forte
do que aqueles pobres rebeldes. Eles parecem um bando de ratos. Esmagamos um,
mas no lugar desse, aparecem dois. E isso tudo porque eles têm uma ideia coesa
por trás. Seus líderes conseguem manter o que, inicialmente pode parecer uma
multidão desorganizada, em uma forte arma de repressão. Enquanto não exterminarmos
essas cabeças, não acabaremos com a força por trás desta ideia absurda de
rebeldia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O Imperador sentou-se no trono e pareceu intrigado
com a afirmação de seu novo general. – O que nos impede de terminarmos de vez
com essas patéticas vidas?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Infelizmente essa corja rebelde desenvolveu um
escudo defletor capaz de bloquear qualquer ataque proposto por nossas tropas. Existem
apenas cinco desses escudos, e eles estão justamente divididos entre esses
líderes. Ainda não conseguimos descobrir uma maneira de furar esse bloqueio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- O Imperador Drextos II se levantou exaltado. – Não
acha que é muito cedo para vir com desculpas? Já disse que exijo soluções,
SOLUÇÕES!<br />
<br />
Antes que Trevor pudesse responder, uma voz, um pouco trêmula, e já entregando
a idade, pediu a palavra. Era o Dr. Strengler, um velho cientista que estava no
canto mais distante da mesa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Caro Imperador, general e demais presentes. Não
precisamos necessariamente matá-los. Como Trevor bem disse antes, sem um ideal
a tentativa de revolta estará morta. Tudo o que precisamos é estancar de vez
esses poços de ideias. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- E como isso será possível? – indagou Drextos II.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Calmamente o cientista respondeu. - Há anos venho
trabalhando em um projeto secreto que recentemente viu a luz do dia. Estava
esperando a oportunidade certa de usá-lo. – O cientista puxou de dentro de uma
bolsa o que aparentava ser um pequeno rifle laser. – Isso, meus caros, não é o
que parece. Em uma primeira olhada pode dar a impressão de ser uma arma letal,
dessas que desintegram o inimigo. Mas não, não é isso que ela faz. Ela é o que
eu chamo de Nápad. E qual sua utilidade, vocês me perguntarão. Respondo: Ela extrai
ideias.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Todos os presentes na sala de reunião arregalaram os
olhos. Um burburinho de palavras indecifráveis se criou no ambiente.
SILÊNCIO!!! – gritou o Imperador. Continue a sua explicação Dr. Strengler. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Com sua licença, oh grande Imperador. Tudo o que
preciso é programar o dispositivo para extrair toda e qualquer ideia relativa à
rebelião. Como ela não é uma arma de ataque, garanto que não há escudo no mundo
capaz de impedir a sua funcionalidade. Basta apontar, apertar o gatilho e
pronto. O pensamento será apagado da mente do inimigo e a possibilidade de
regenerar tal ideia ficará impossibilitada, graças aos efeitos do Nápad. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Em meio às gargalhadas eufóricas o Imperador repetia:
- Ótimo doutor, ótimo, ótimo! Dessa maneira iremos aniquilar para sempre essas
ideias ridículas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">- Meu caro Imperador, ideias não podem ser
destruídas. Como eu disse anteriormente, o meu aparelho as extrai, não as
elimina. Uma vez arrancada ela tomará uma forma física e ficará retida nesta
cápsula redonda. Não se engane com o tamanho, se este aparentemente inofensivo
receptáculo for perdido, as ideias poderão retornar para seus donos. Para evitar
o pior, sugiro a criação de uma sala blindada, com toda a segurança necessária
para que esses pensamentos jamais voltem a ter vida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Drextos II finalmente sorriu aliviado, esvaziando a tensão
que ainda preenchia o ambiente. Olhou para todos e falou: - Um cemitério de
ideias...gostei! Construam essa tumba de aço imediatamente!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br style="mso-special-character: line-break;" />
<br style="mso-special-character: line-break;" />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-37964857105456711702014-07-31T19:11:00.003-03:002014-08-08T11:39:16.366-03:00Criado Mundo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCGpx9vLmoUDr8mcJvUTvhBMM6XOnOi94jG8-elWytMMdsUDM_xXmdtDYDr9p4Ul_CV2eewhf6W-T9s9gaPE40f6ET2DDGD7pzMs4RDMJcTZt1dsVK6-WE57uA5piw52yMOnq0/s1600/criado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCGpx9vLmoUDr8mcJvUTvhBMM6XOnOi94jG8-elWytMMdsUDM_xXmdtDYDr9p4Ul_CV2eewhf6W-T9s9gaPE40f6ET2DDGD7pzMs4RDMJcTZt1dsVK6-WE57uA5piw52yMOnq0/s1600/criado.jpg" height="360" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Pessoal, estou com uma série de artigos no <b>Criado Mundo</b>. Tem muita coisa boa por lá: música, cinema, literatura, quadrinhos...confere lá!<br />
<br />
<b>Site Oficial:</b> <a href="http://www.criadomundo.com.br/">www.criadomundo.com.br</a><br />
<br />
Para acessar diretamente meus artigos: <a href="http://criadomundo.com.br/category/rafael-pesce/">http://criadomundo.com.br/category/rafael-pesce/</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-20517178975115709772012-10-25T12:39:00.004-02:002014-06-13T15:53:08.499-03:00O Dia V<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX9n7FjJfMExz08i8k6VqDJjPwdZxkqWJ8ww-S_S-exzu0jLKt6H7Q2SDSM_CPmEjIbTmHtcW3Q142syb22KSWjI-mzd40yl1pnbVNr1tp8qtxBViHOEEXpHQCGBuUPa1ijp3e/s1600/polaca+em+baixa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX9n7FjJfMExz08i8k6VqDJjPwdZxkqWJ8ww-S_S-exzu0jLKt6H7Q2SDSM_CPmEjIbTmHtcW3Q142syb22KSWjI-mzd40yl1pnbVNr1tp8qtxBViHOEEXpHQCGBuUPa1ijp3e/s400/polaca+em+baixa.jpg" height="400" width="265" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: inherit;">Por Rafael Pesce<i> </i></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><i>Ilustração: Francisco Gusso</i></span><br />
<br />
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">O dia 6 de junho de 1944 ficou conhecido como o Dia
D, o golpe final das tropas aliadas contra o regime nazista de Adolf Hitler.
Mais de 155 mil homens dos exércitos americano, britânico e canadense
lançaram-se em um ataque nas praias da Normandia, na França. Para os livros de
história foi o começo do fim da Segunda Guerra Mundial, mas para mim, foi o
início de uma nova vida, um ciclo que desbravaria a eternidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">Meu nome é James McCovil, mas meus companheiros me
chamavam de Jim. Fui casado com uma linda garçonete de nome Margareth, com a
qual tive dois filhos. Deixei minha família no longínquo estado do Texas após
meu alistamento militar em 1940. Tornei-me cabo do exército americano,
pertencente ao 83° Regimento de Infantaria. Junto com centenas de milhares de
soldados fiz parte da ofensiva na Normandia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">Daquele dia me lembro da tensão constante. O olhar
perdido de alguns companheiros contrastava com o sangue nos olhos de outros.
Estávamos todos preparados para morrer, sem medo de nosso destino. Os tiros e
explosões chegavam mais perto a cada metro que o barco se aproximava da praia.
Não demorou muito para as primeiras embarcações serem explodidas. Nessa hora,
apenas olhava fixamente para frente, rezando para a próxima bala não atingir
meu corpo. Assim que minhas botas tocaram os primeiros grãos de areia, corri em
busca de um ponto de defesa. Nossa companhia foi uma das primeiras a
desembarcar. Tínhamos a missão de tomar dois morteiros localizados no norte da
praia, facilitando, assim, a locomoção das tropas. Dividimos nossa força. Vinte
homens avançaram em lados opostos na tentativa de surpreender o inimigo. Fiz
parte do ataque pelo flanco leste. Costeamos o alvo, em bloco. Tudo parecia
correr como planejado, mas foi então que ouvi gritos por perto. Meus dois
companheiros da direita caíram após tiros certeiros, que perfuraram seus
capacetes sem dificuldade. Pouco tempo depois outros três combatentes foram
alvejados, antes que pudessem reagir. Percebi que havíamos caído em uma
emboscada. A partir deste momento o terror tomou conta do resto da tropa. Sem
saber o que fazer, tentei correr o mais rápido possível em busca de algum
abrigo momentâneo. Enquanto minhas pernas tentavam carregar o meu corpo, ainda
infectado pelo pavor, ouvi um zunido. Na minha frente caiu uma granada.
Booooooooooooooooom! Barulho ensurdecedor e falta de visão total. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">* * *</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">Acordei em uma cama simples, de madeira. Tentei me
levantar, ainda assustado, quando a vi: uma linda mulher, de pele branca e
longos cabelos negros que envolviam seus ombros como uma espécie de manto. O
olhar dela me petrificou, mas o sorriso, tímido no canto da boca, me passou
certa tranquilidade. Ela parecia um anjo. Pensei que estava morto, só poderia
estar no céu. Era a única explicação possível. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Sente-se bem? – Perguntou a mulher calmamente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Minha cabeça dói. Onde estou? O que aconteceu
comigo? – Um ruído insistente ainda passeava pela minha cabeça.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Digamos que você está a salvo...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Quem é você?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Meu nome é Annabel. Sou uma enfermeira, quer dizer,
eu era uma enfermeira. Mas ainda sei como cuidar de um soldado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Como assim? Estou em um hospital militar?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Não, essa é a minha casa. Fique tranquilo, as
poucas pessoas que cruzam minha porta estão a salvo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">A cabana era escura, pouco ventilada. Apenas uma
janela, não muito grande, permitia um vislumbre da parte externa da casa.
Alguns móveis, gastos pela ação do tempo, ornamentavam o lugar. Era noite, um
estranho silêncio insistia em me manter calmo. Memórias antigas apareciam como
flashes na frente dos meus olhos. Neste momento, pensei na minha terra natal,
em tudo que tinha ficado para trás. Uma lágrima escorreu em meu rosto. Annabel
não entendia o porquê daquilo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Você está bem soldado? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Sim, apenas lembranças do passado. Esses
pensamentos sempre me assombram. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Fantasmas. Fantasmas de outrora. Diga-me, o que o
atormenta?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Minha mulher, Maggie. A deixei nos Estados
Unidos. Nosso casamento não ia bem, desconfiava que ela me traísse. Diziam que
muitos homens do bairro experimentaram dos prazeres dela. Não conseguia
encontrar mais emprego. O dinheiro se tornou escasso. Talvez seja por isso que
ela tenha buscado a felicidade nos braços de outros homens. Na época não queria
acreditar, mas alguns anos de solidão na guerra foram suficientes para abrir
meus olhos. Se algum dia eu voltar para meu país sei que ela estará com outro.
E as crianças? Meu Deus! Christopher tinha quatro anos quando parti. Não
tive nem tempo de jogar baseball com meu filho. Annie tinha apenas um ano,
perdi os primeiros passos dela. Hoje os dois nem se lembram do pai que um dia
tiveram – a intensidade das lágrimas aumentou neste momento, mas continuei a
falar - A guerra é uma fuga. Claro, queria ajudar meu país, mas cruzar o mar e
pegar em armas foi apenas uma desculpa para escapar de uma realidade que me
trazia tormento. Agora, tudo que penso é terminar com essa guerra e matar o
máximo de nazistas que eu puder. Quem sabe um dia eu consiga viver em paz
comigo mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">Annabel estava com uma expressão consternada. Por
um momento pensei que ela iria chorar. Mas a pele pálida permanecia imóvel.
Alguns segundos silenciosos inundaram o ar até ela finalmente responder: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;"> - Eu sei como você se sente caro soldado.
Minha guerra não foi essa, muito menos a antecessora, mas do outro lado também
estavam os germânicos. Uma guerra entre a França e a então Prússia. Os homens
lutaram bravamente na frente de batalha. Para nós, mulheres, sobrava o trabalho
de cuidar dos feridos. Perdi meu marido e dois irmãos na Batalha de Sedan.
Infelizmente, ou felizmente, Deus nunca me deu a chance de ter um filho. Estava
completamente sozinha no mundo. Quando a guerra terminou, sobrou pouca coisa
para o lado perdedor, no qual eu me encontrava. Sem ver sentido em minha vida,
tentei me matar. Pendurei uma corda em uma árvore, coloquei-a no meu pescoço e
esvaziei a mente. Tudo deveria estar acabado em poucos segundos. Mas um
salvador apareceu e deu uma benção que me salvou. Terminar com minha vida não
era mais uma opção. Uma nova sede tomou conta do meu corpo. Durante muito tempo
passei a perseguir qualquer prussiano que estivesse envolvido na antiga guerra.
E isso me satisfez por um tempo. Com o passar dos anos fui procurando
motivações, desafios e...almas para compartilhar esses momentos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">Fiquei paralisado perante o relato de Annabel.
Nunca fui um grande conhecedor de história. Sinceramente não sabia nem quando
ou por qual motivo essa outra guerra havia acontecido. A aparência jovem de
minha anfitriã indicava que o conflito não ocorrera há muito tempo. Era o que eu
pensava. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Soldado, você pode ver que os martírios da guerra
não foram apenas um escape para você. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Eu sei, vejo isso claramente. Queria fazer esse
vazio sumir. Sinto um buraco negro crescendo e tomando conta de cada centímetro
do meu corpo. Não sei mais o que pensar, nem o que fazer. – Nesse momento as
lágrimas verteram de ambos os olhos, incessantemente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">- Acho que só tem uma solução para isso. Estou
pronta para lhe dar uma bênção que há um século me foi ofertada. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana;">Quando olhei para Annabel, sua expressão havia
mudado. O sorriso, antes belo, ganhou duas presas, que contrastavam com a
penumbra da noite. Ela mordeu o meu pescoço, e antes que a última lágrima
tocasse o chão, eu me encontrava inconsciente. Os próximos dias foram de agonia
e sofrimento, mas após esse teste do tempo eu estava pronto. Não sentia mais
dor, apenas uma sede constante por sangue.</span></div>
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<![endif]-->Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-68250813680818533412012-07-27T15:35:00.003-03:002012-07-27T15:37:52.892-03:00A Casa dos Segredos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-OEJs52aN6c3iuv_QsLv2NLHS-h4kXyfyjbJw2B2E62UsrenXEE3upERG8pxTQoCFUIFvYywGbobgkEhTJRhP7nJI4R0XHPNXhLReTmfYiTV-nDqaFmcaAxRydvox-Ls4UAel/s1600/o_pregador_300.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-OEJs52aN6c3iuv_QsLv2NLHS-h4kXyfyjbJw2B2E62UsrenXEE3upERG8pxTQoCFUIFvYywGbobgkEhTJRhP7nJI4R0XHPNXhLReTmfYiTV-nDqaFmcaAxRydvox-Ls4UAel/s400/o_pregador_300.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Por Rafael Pesce <br />
Ilustração: Theo Szczepanski<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Vum Vum Vum Tec Vum Vum Vum Tec Vum Vum Vum Tec...o
barulho do velho ventilador o despertou. O quarto era mal iluminado, com apenas
uma cama de solteiro coberta pelo pó. Ao lado, uma pequena cômoda com um
telefone antigo. Uma televisão 14 polegadas, com alguns botões faltando,
completava a decoração. Na porta, um chaveiro escrito HOTEL MIRANTE entregava o
lugar em que acordara. Como ele havia chegado ali ainda era uma incógnita. No
corpo, uma camisa de cetim, uma calça jeans desbotada e um relógio quebrado. No
chão, um par de sapatos com as meias ainda dentro. Levantou da cama, ainda um
pouco zonzo. Não fazia a mínima ideia de como chegara ali. Lembrava apenas do
seu nome, Victor. Profissão? Família? Namorada? Nada, nada aparecia em sua
mente, apenas um grande vazio preenchido por uma sensação de estranheza.
Colocou as meias e o sapato, abotoou a camisa e ao se levantar sentiu um leve
peso em um dos bolsos. Puxou um cartão. Nele estava escrito: NIX – CASA DE
PENHORES – Rua Imperador de Jade, 14. Era uma pista, a única que tinha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">A cidade era desconhecida. Parecia grande, já que
prédios pipocavam por todos os lados. Entrou em uma cabine telefônica em busca
de uma lista. Procurou pelo nome da rua, mas ela não constava em nenhuma das
500 páginas. Olhou novamente o cartão para conferir se não havia se equivocado.
Mas era isso mesmo, Rua Imperador de Jade, inexistente aos seus olhos. Caminhou
por mais algumas quadras. Seguiu o caminho onde o cheiro era pior, parecia
lógico para ele. Acabou em uma pequena travessa. Lá, mulheres dos mais diferentes
tipos vendiam o corpo. Abordou algumas delas e perguntou se sabiam da
existência da rua misteriosa. Todas foram unânimes em dizer que não, com uma
convicção assustadora. Estava sem rumo. Resolveu sair daquele lugar, mas foi
interrompido por um toque no ombro. A responsável foi Labelle, uma prostituta
ruiva e obesa, que calmamente sussurrou nos ouvidos de Victor: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Meu amor, todo mundo que vive no submundo sabe da
existência dessa rua. Mas chegar até lá é algo que muitos têm medo... medo até
de pensar. Querido, você me parece alguém que não vai desistir até encontrar o
que procura. Por isso, pegue o metrô até a estação Policarpo, vá em direção à
saída sul e ande três quadras. Lá estará o bar Potus, um lugar onde respostas
podem ser encontradas...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Labelle piscou com o olho direito, deu um tapa de
leve na bunda do rapaz e colocou algumas notas e moedas no bolso da camisa de
Victor. O metrô demorou 15 minutos para chegar até o destino. A caminhada até o
bar foi apressada. O estabelecimento era pequeno, podia passar despercebido
pelos olhos mais desatentos. Na entrada, um letreiro em néon, mas apenas a
letra P ainda exibia alguma luz. Desceu uma pequena escada que o levou até o leão
de chácara, mal-encarado. Entrou sem pestanejar sob olhares desconfiados. No
interior, uma dezena de pessoas se dividia entre o balcão e as poucas mesas. Ainda
era cedo para um movimento maior. No palco, uma banda de barbados cantava uma
versão arrastada de “Woman From Tokyo”, do Deep Purple. Sentou no balcão e
pediu o drink mais barato do menu. O barman, um velho carrancudo com tatuagem
do Charles Bronson no braço direito, o serviu. Com o copo cheio, Victor foi
direto ao ponto: “Rua Imperador de Jade, 14”. O braço tatuado apontou para uma mesa
localizada no canto mais obscuro do bar. Lá estava sentando um anão. Ele exibia
traços asiáticos e vestia um terno e chapéu que pareciam saídos da Chicago dos anos
20. Cheng era seu nome. Duas loiras robustas, em vestidos mínimos, o acompanhavam.
Compenetrado, Victor aproximou-se da mesa. O anão notou a expressão séria que o
encarava e mandou as duas companheiras se afastarem. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Rua Imperador de Jade, 14. O que você sabe? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Calma garoto, calma. Informações como essa tem um
preço. Você acha que é barato pagar por belezuras como aquelas duas? O que você
tem a me oferecer hein garoto?!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Isso!!!!!!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Victor desferiu um soco tão rápido que pegou Cheng
sem nenhuma reação. O anão foi derrubado da cadeira, batendo a cabeça no chão.
A confusão despertou a ira dos frequentadores do bar, que partiram para cima do
brigão. Um a um foram caindo após sequências de chutes, socos, cabeçadas e
voadoras. Com todos já sem capacidade de reação, Victor voltou a interrogar o
charlatão:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- A rua, agora! Você tem três segundos para me dizer
antes que sua cara fique tão feia que nenhum dinheiro no mundo vai fazer uma
puta te aceitar...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Calma, calma...calma garoto. Eu digo! Eu digo!
Essa rua fica em um lugar onde ninguém vê, pelo menos não claramente. Vá até o
centro da cidade, em direção à praça José Bonifácio. Procure pela Lavanderia
Yin-yang, você encontrará o que procura lá... agora vá, me deixe em paz, por
favor...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Victor surrupiou o dinheiro da carteira do anão e
saiu do bar. Pegou um táxi e rumou até o centro da cidade. Desceu perto de um
calçadão e começou a procurar pelo estabelecimento. Não demorou muito e
encontrou a lavanderia. Ela ficava em um local pouco visível, em uma rua
secundária. Victor parou em frente à porta. Nenhuma luz aparente. Tentou a
maçaneta. A porta estava aberta. Entrou no lugar e...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">...lá dentro não havia máquinas de lavar roupa, nem
secadoras, nada. A entrada dava acesso à outra rua. Imperador de Jade, apontava
a placa. Lateralmente vislumbrou mais de uma dezena de portas. Procurou pelo
número 14 e lá estava, NIX – CASA DE PENHORES. A porta era de madeira, antiga,
com alguns buracos denunciando a ação do tempo. Entrou sem bater. Caminhou por
um pequeno corredor até chegar ao que parecia ser uma recepção. No balcão, uma
senhora idosa, certamente com mais de 70 anos. Ao fitar Victor, os olhos dela
arregalaram-se. Começou a tremer e a gritar: “Meiying, Meiying, Meiying”. De
uma ante-sala saiu uma mulher, mais jovem. Igualmente assustada, balbuciou uma
indagação:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Não...n-n-não funcionou senhor? O que você faz
aqui? – As palavras saiam tremidas, quase incompletas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Como assim? Do que você está falando?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Você não lembra? – a voz agora aparentava uma
maior calma.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Acordei em uma pocilga, sem lembrar de nada, apenas
com este cartão no meu bolso. Que diabos aconteceu comigo? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Senhor...é melhor me acompanhar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Victor dirigiu-se com as duas mulheres até uma
pequena sala. Lá, um velho ancião estava sentado no chão com os olhos fechados,
entoando cânticos em uma língua estranha. Ao lado, um pequeno fogão improvisado
esquentava uma chaleira com água. Ao perceber movimento, o anfitrião levantou
as pálpebras. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Hum...você voltou! O trabalho não funcionou?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Ele não sabe o que aconteceu, está desnorteado.
Procura respostas, urgentes. Parece que não vai desistir até as encontrar –
respondeu a mais jovem das mulheres.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Hum...e você meu jovem, tem certeza que quer
descobrir o porquê de tudo?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Vamos velho, me fale logo o que aconteceu comigo!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Bem, como você já deve ter percebido<span style="color: red;"> </span>essa não é uma Casa de Penhores. De segredos, talvez.
O conhecimento da existência desse lugar é privilégio para poucos. Mas bem, o
que eu faço aqui meu jovem, é uma arte há muito tempo esquecida, uma arte que é
passada de geração a geração. Neste recinto, os segredos das pessoas são
guardados, muitas vezes até esquecidos. O fruto desse abandono é o alimento da
nossa casa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Victor não se sentia completo desde que acordara. O
vazio interior crescia assustadoramente a cada segundo. Transtornado e sem ter
certeza do que estava pedindo, deixou as palavras fluírem:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Você tirou um segredo. Pode colocá-lo de volta?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Hum....tem certeza que é isso que quer?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Ou é isso ou é o fim da linha para mim, sinto um
abismo se abrindo dentro da minha cabeça.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Tudo bem meu jovem, sente-se aqui.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Victor acocorou-se ao lado do ancião. A água que
estava esquentando, a essa altura já estava fervida. O velho pegou uma caneca e
colocou algumas ervas dentro. Sovou todo conteúdo e misturou com o líquido. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Agora beba, isso é tudo que precisa fazer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Tremedeiras, suor excessivo, barulhos
estranhos...tudo começou a girar. Victor pensou que estava morrendo, mas a
visão que teve era pior que a morte. Tudo estava preto e branco. Um a um seus
demônios interiores foram aparecendo. Vidas passadas, há muitos séculos
esquecidas, foram desfilando na frente de seus olhos. Em meio a um assombroso
passado, reis, rainhas, bruxas e criaturas da noite ganhavam contornos
sanguinários. O protagonismo da mão que empunhava os instrumentos da morte era
sempre de Victor. As imagens percorreram o caminho do tempo até chegarem à
década atual. O panorama continuava o mesmo, apenas com uma gama diferente de
vítimas. Pouco mais de 20 minutos de um tormento quase insuportável se passou.
Victor levantou-se, agora com a convicção de quem realmente era, e saiu daquele
lugar. Três corpos foram deixados para trás, com a certeza de que certos
segredos não devem ser nunca esquecidos.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-47688930663468795402012-07-09T20:54:00.001-03:002012-07-27T15:38:03.213-03:00Judicare<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWd-Jk36GlBNFNOyJV5GxtqLSDuq3mmWZQexCD2fpBwmxYQoB-_3w73cIhcDIrhfCyXELfDbC87Z2ad06vYdoDXZj73A3xdjf3CYyW9PTyWKHwAzTuJtkOk5gsU6YTYd9651EY/s1600/for%C3%A7a+desconhecida+I.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWd-Jk36GlBNFNOyJV5GxtqLSDuq3mmWZQexCD2fpBwmxYQoB-_3w73cIhcDIrhfCyXELfDbC87Z2ad06vYdoDXZj73A3xdjf3CYyW9PTyWKHwAzTuJtkOk5gsU6YTYd9651EY/s400/for%C3%A7a+desconhecida+I.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Por Rafael Pesce</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Ilustração: Dea Lellis </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">O microônibus da empresa Troma partia diariamente de
São Horácio levando 12 trabalhadores para a fábrica de torneiras elétricas,
localizada nas imediações do município vizinho de Nova Budapeste. Apesar das
condições precárias da estrada de chão, os 14 km percorridos eram
tranquilos. O dia 9 de Julho tinha tudo
para ser como qualquer outro. Mais uma jornada de trabalho na vida de Alastor, operário
dedicado, marido e pai de duas filhas; de Rebeca, consultora de RH; e de
Norberto, chefe de segurança e notório mulherengo, famoso nos bordéis da
cidade. Como faziam todos os dias, os três pegaram o transporte na frente da
prefeitura, e embalados ao som das notícias da rádio Romero iniciaram o trajeto
rumo à empresa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;"><br />
O movimento entre São Horácio e a fábrica era escasso. Pouquíssimos carros
passavam por aquela estrada, em sua maioria trabalhadores rurais levando produtos
para vender nas cidades vizinhas. O microônibus seguia sossegado, sem
ultrapassar a velocidade permitida. Seu Moacir, o motorista, era um homem
precavido. Vangloriava-se do fato de nunca ter levado uma multa na vida. Prezava
a segurança acima de qualquer coisa. Mas nem sempre isso é suficiente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">O veículo prosseguia normalmente, mas após fazer uma
curva relativamente simples se deparou com um carro funerário, daqueles
enormes, como se fosse da década de 20. Seu Moacir não soube de onde o outro
veículo surgiu. Em um momento a estrada estava livre, no outro, não. Foi a
última coisa que ele pensou. O microônibus, na tentativa de desviar rapidamente
do obstáculo, capotou. O choque foi violento. Gasolina vazava abundantemente.
Alastor olhou para o lado e viu companheiros de trabalho já sem vida. O metal
cortou algumas partes dos corpos. O cenário era de terror e o perigo de
explosão, eminente. Sem muito tempo para pensar, o operário conseguiu tirar o
cinto de segurança e sair daquele caos. Um minuto depois e.......BUUUUUUUUUUM!!!!!!
Fogo e cheiro de morte. Mas Alastor não tinha sido o único a escapar do
acidente. Norberto e Rebeca saíram ilesos das ferragens. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Poucos quilômetros separavam os sobreviventes da
fábrica. Os três trabalhadores iniciaram o percurso para pedir socorro. Não
deveria demorar muito tempo, o trajeto a pé levaria em torno de duas horas.
Passaram-se três horas e nada. A rota já não parecia a mesma. Caminharam por
mais meia hora até que se depararam com uma casa velha, quase na beira da
estrada. Acharam estranho, pois no trajeto diário nunca haviam visto aquela
moradia. Resolveram tentar a sorte e foram para lá em busca de ajuda. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">O portão era antigo, de ferro, com pontas afiadas. No
centro, uma palavra talhada: JUDICARE. A ferrugem e tipografia das letras
denunciavam a idade do casarão. Os três entraram no jardim um pouco receosos.
Não foi preciso mais do que 15 passos para chegarem à entrada. Uma argola de
ouro servia como campainha. Norberto bateu cinco vezes, sem resposta.
Impaciente, Rebeca forçou a maçaneta e constatou que a porta não estava
trancada. Um enorme salão abriu-se à frente dos três sobreviventes. Mobília
antiquada, teias de aranha e quadros que pareciam retratar antigos barões do
café ornamentavam o local. As paredes estavam todas pichadas com palavras sem
sentido para os visitantes: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ratio,
placitum, iudicium, decretum, consilium, censura </i>e<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> arbitrium</i>. Rebeca aparentava estar assustada. Alastor estava calado,
apenas observava tudo. O afobado Norberto saiu bufando e gritando: “que porra
de lugar é esse, vou encontrar alguém nessa merda aqui é agora”. O chefe de
segurança subiu as escadas e desapareceu rumo ao segundo andar, antes que os
dois pudessem falar algo. No hall de entrada um detalhe chamava a atenção, quase
tudo parecia duplicado. Alastor esfregou as mãos nos olhos, mas era isso mesmo,
lá estavam duas mesas, duas cadeiras, duas estantes de livros, dois tapetes,
até mesmo dois telefones antigos, um ao lado do outro. Norberto estava demorando,
preocupando os demais. Resolveram procurar o colega, mas quando Alastor estava
prestes a dar o primeiro passo em direção ao degrau, uma menina apareceu. Ela devia
ter em torno de 11 anos e estava acompanhada por um gato cinza. Ouviu-se um
miado, e em seguida um grito. No flanco esquerdo da sala, Norberto jazia
enforcado. A garota desapareceu. Rebeca chorava compulsivamente e gritava: “nós
vamos morrer, nós vamos morrer”. Correu até a porta de entrada, mas estava
trancada. As janelas fecharam-se subitamente. Descontrolada, rumou em direção a
outro cômodo da casa. Alastor, nervoso, preferiu permanecer ali. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Uma hora se passou. Nenhum sinal de Rebeca. A casa
repousava em quase completo silêncio. O único barulho presente era do corpo de
Norberto, ainda balançando. O cenário de solidão apenas se modificou quando a
misteriosa criança e seu animal de estimação apareceram novamente. O operário
abriu os olhos, assustado, e começou a persegui-la. A brincadeira de pega-pega só
terminou quando Alastor chegou a um banheiro. Mas, ao invés de encontrar a
menina, quem apareceu foi Rebeca, afogada em uma banheira que mais parecia uma
piscina de sangue. Espavorido, o trabalhador, aos tropeços, correu para o
primeiro lugar que o nariz apontou. Tentou novamente a porta de entrada, mas
ela continuava trancada. Chutou e esmurrou com toda força as janelas, mas elas
permaneciam imóveis. Resolveu subir para o segundo andar, único lugar que ainda
não havia tentado. Fez isso e correu para a direita, onde avistou uma escada que
parecia dar acesso a uma espécie de sótão, levemente iluminado por uma luz
amarela. Seguiu este caminho e chegou a uma sala verde. Deu de cara com um
piano enorme, e notou aquele mesmo padrão de objetos gêmeos. O lugar parecia
abandonado. Doce engano. De trás de uma das cortinas saiu a menina misteriosa com
seu gato. Uma luz irradiava da criança, mas a voz que conversou com Alastor
veio do gato: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Quem entra nessa casa não pode temer, pois o sol
que ilumina a alma dos homens deve se apagar. Seja hoje ou amanhã, isso não
cabe a você decidir...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Não tenho mais forças, pode me matar – respondeu o
operário conformado com o destino trágico.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Cale-se! Quem é você para me dar ordens? Matar ou
não matar, isso não depende de mim. O veredicto foi traçado ao longo da sua
vida. Você não conhece a resposta? Pare de tremer e pense um pouco. No seu interior
você já sabe, é por isso que eu estou aqui para sentenciá-lo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Eu não sei de nada. Sou apenas um trabalhador
honesto, buscando uma vida melhor para minha família. Por que você matou meus
colegas? Por quê? Me responda... </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Quem disse que os matei?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">Neste momento, uma menina igual a que estava na
frente de Alastor, saiu das sombras, permanecendo imóvel. A voz continuou seu
discurso:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">- Homem, esta é a Casa do Julgamento. A missão
atribuída no casamento da luz e sombra é apenas uma: JUDICARE. Agora vá e volte para sua família, a porta
está aberta. Não tente retornar para esta casa nunca mais, pois encontrá-la
será impossível. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Tahoma;">O operário saiu assustado do casarão. Caminhou
alguns quilômetros e dessa vez conseguiu auxílio facilmente. O microônibus foi
encontrado com os corpos carbonizados. Alastor foi o único sobrevivente. Nos
dias seguintes, a mídia começou a dissecar a vida dos acidentados. Descobriu-se
mais tarde que Norberto era o rosto por trás do “Máscara de Ferro”, um Serial
Killer de prostitutas procurado em toda região. Rebeca era responsável por um
esquema de propina que beneficiava a contratação de trabalhadores indicados por
vereadores da cidade. O dinheiro da fraude foi encontrado em uma conta
fantasma. Os políticos envolvidos no escândalo estão, neste momento, em um
microônibus, seguindo em direção a um escritório de advocacia na cidade vizinha
de Nova Budapeste.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-49934204858522729482012-04-13T17:16:00.001-03:002012-07-27T15:38:12.418-03:00O Pintor de Itabuna<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUhmNu8AWZ_XlPqyVyY_mMGOoYbgMlbvOIrWm9WFU8dk_xjJ-itj6Fpnzp0jKiDuf4rn9JRrzENS96cjwTE12O2FiDJCJfTBKEj8-arJpG0V7UwIcLE-_kKRiHNZ0AoDtgdzw1/s1600/pintor_de_itabuna_pedrogiongo_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUhmNu8AWZ_XlPqyVyY_mMGOoYbgMlbvOIrWm9WFU8dk_xjJ-itj6Fpnzp0jKiDuf4rn9JRrzENS96cjwTE12O2FiDJCJfTBKEj8-arJpG0V7UwIcLE-_kKRiHNZ0AoDtgdzw1/s400/pintor_de_itabuna_pedrogiongo_2.jpg" width="335" /> </a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Por Rafael Pesce <br />
Ilustração: Pedro Giongo<b><i><br />
<br />
ITABUNA, SEGUNDA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE 2012</i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Polícia baiana prende o Pintor de Itabuna</b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Foi preso neste fim de semana o serial killer mais procurado da Bahia. O Pintor de Itabuna, como ficou conhecido o assassino, foi localizado em sua residência na noite de domingo, enquanto assistia ao Programa Silvio Santos acompanhado de 11 cabeças das vítimas que fez ao longo dos últimos seis meses. A identidade do criminoso é mantida em sigilo pela polícia por motivos de segurança. Sabe-se apenas que o homicida é um anão de 1,20m.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
A história da série de assassinatos começou em julho de 2011, quando o empresário José Enrique López foi encontrado morto pela amante. A vítima encontrava-se sem a cabeça, e foi reconhecida através de uma tatuagem do Esporte Clube Bahia<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">,</b> localizada nas costas. No local foi deixada uma folha A4 com o desenho do que supostamente parecia ser o rosto do falecido. Porém, até os policiais especializados em desenho de retratos falados tiveram dificuldade na identificação dos traços do finado. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Após o primeiro crime mais uma dezena de assassinatos foram cometidos pelo Pintor de Itabuna, seguindo sempre o mesmo Modus Operandi: corpo sem cabeça e desenho da vítima no local. Além do empresário Zé López, foram vitimados os cinco integrantes do grupo de Axé universitário Arrastaxé, o casal de médicos Dr. Ulisses Nogueira e Dra. Fátima Homero, o repentista Noé dos Santos, o jornalista Ildo Roblan e a socialite Marisa Briacone, morta na última semana enquanto tomava banho de sol em sua mansão. Em comum as vítimas apresentavam o fato de terem pintado suas residências no decorrer do ano de 2011. Acredita-se que o Pintor de Itabuna estivesse entre a equipe que realizou esses trabalhos. Localizados por nossa reportagem, os donos da empresa de pintura Trovesine & Filhos confessaram que o empregado anão sofria constantemente com bullyng, praticado à exaustão pelos companheiros de trabalho e por alguns contratantes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O delegado de polícia Sérgio Trancone acredita na hipótese de vingança como motivo principal para o crime: “temos fortes indícios de que os assassinatos foram uma represália do anão contra as brincadeiras de mau gosto praticadas contra ele”. Vizinhos do anão homicida revelaram a nossa reportagem que no momento da prisão o serial killer gritava compulsivamente: “pintor de rodapé é o c******”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUhmNu8AWZ_XlPqyVyY_mMGOoYbgMlbvOIrWm9WFU8dk_xjJ-itj6Fpnzp0jKiDuf4rn9JRrzENS96cjwTE12O2FiDJCJfTBKEj8-arJpG0V7UwIcLE-_kKRiHNZ0AoDtgdzw1/s1600/pintor_de_itabuna_pedrogiongo_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-46522131337169737672012-02-08T15:06:00.002-02:002012-07-27T15:38:32.220-03:00A Festa dos Loucos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ZBs-be78McfvMxeu-SOTz9EThvZr7MBFXdjbNj_AbL-O_KlSrgi__j1lNbya3_GNihTSdbXnryR9RpWD_miycYoRKiPjJK5MNcAgyTkxWVNGxlUJXgZS46a5E850vHyoedVa/s1600/momo_lama_blog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ZBs-be78McfvMxeu-SOTz9EThvZr7MBFXdjbNj_AbL-O_KlSrgi__j1lNbya3_GNihTSdbXnryR9RpWD_miycYoRKiPjJK5MNcAgyTkxWVNGxlUJXgZS46a5E850vHyoedVa/s400/momo_lama_blog.jpg" width="346" /> </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Por Rafael Pesce</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Ilustração: Lord Velprost</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
As longas paredes de pedra protegem o reino dos perigos que rondam o castelo. As torres, altas e guarnecidas com arqueiros e uma extensa linha de lanceiros, intimidam um possível ataque inimigo. Mas nem sempre os maiores riscos encontram-se fora das muralhas...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Em tempo de carnaval, a chamada festa dos loucos, o povo camuflava-se em meio a cores, vestindo espalhafatosas fantasias e abandonando qualquer devoção religiosa. Mas não eram apenas os súditos que se divertiam. A corte real era igualmente virada de cabeça para baixo, entregando-se aos prazeres propostos pela folia. E ninguém estava mais a vontade do que o Rei Cedric III, o Ogro Louco, como era conhecido pelos populares. Um Rei obeso, cujo peso em excesso era proporcional a sua ganância e sadismo. No carnaval essas características eram acentuadas<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">. </b>Centenas de litros de hidromel ajudavam no descontrole generalizado. Bufões e bobos da corte perdiam literalmente a cabeça mediante qualquer piada infeliz ou sem graça. Sangue jorrava ao som dos risos do Ogro Louco. Munido de seu cetro de ouro, o Rei espetava os convidados, atiçava as prostitutas e provocava os empregados do castelo: “tragam logo minha bebida! Ou me deixam mais bêbado ou cabeças vão rolar”. Gargalhadas escandalosas ecoavam pelos corredores da fortaleza de pedra. A Rainha, assustada desde o casamento forçado, nunca dizia nada, apenas ficava sentada, passiva em seu canto. A palavra piedade não constava no dicionário real. Na muralha norte uma extensa fileira de cabeças apodrecia em cima de estacas afiadas, servindo como um aviso do que acontecia àqueles que se opunham a vontade do Rei. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Roselyn, agora com 14 anos, conheceu bem os hábitos de seu suserano. A garota viveu no castelo até os cinco anos, já que seus pais eram empregados do Ogro Louco. Em meio a um carnaval, a criança presenciou o sadismo do Rei, que estuprou e assassinou sua mãe, obrigando o pai a assistir tudo, pouco antes de matá-lo. Abandonada do lado de fora do castelo, a criança foi encontrada pela Senhora Madelaine, dona de um dos bordéis mais frequentados da cidade. A mulher compadeceu-se da dor de Rose e a criou como se fossa uma filha. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Nove anos se passaram após o incidente. Tudo que a menina conseguia pensar era em vingança. Estava cansada da passividade com que o povo via as crueldades do Rei. Ela sabia que não existia nenhum exército numeroso suficiente para vencer as muralhas do reino. Seria uma pobre adolescente capaz de fazer o que 10 mil homens não conseguem? Queria tentar, nem que isso significasse perder a vida. Madelaine sabia dessas intenções e tinha consciência que jamais conseguiria tirar esse sentimento de Rose. Resolveu ajudá-la. Unidas<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">,</b> confabularam um audacioso plano de assassinato para o próximo carnaval real.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Durante a festa dos loucos, Cedric exigia que os bordéis abastecessem o castelo com um número abundante de prostitutas. Mas nesse ano a Senhora Madelaine daria um presente especial. A dona da casa de prazeres iria oferecer um tributo que o Rei jamais negaria, uma virgem, Rose, que apesar da pouca idade já exibia um belo corpo de mulher. Essa era a porta de entrada para a vingança. A morte do Ogro Louco deveria ser dolorosa. A dupla de futuras regicidas não queria um fim rápido. A opção escolhida foi o uso de extrato de <b><span style="font-weight: normal;">Jatropha Curcas, proveniente de uma planta conhecida como Pinhão-de-Purga.</span></b> Depois de ingerido, o líquido calmamente bloqueava a circulação do sangue, resultando em uma morte agonizante e insuportável. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O dia decisivo havia chegado. Madelaine levou Rose ao castelo, em posição de destaque no meio da comitiva de prostitutas que serviriam à corte real. O extrato de Jatropha, armazenado dentro de um pequeno vidro, ficou escondido entre os peitos da virgem. Quando chegaram ao salão real constataram que a festa já havia começado há um bom tempo. Príncipes, lordes e meretrizes embriagavam-se em todos os cantos. A cerveja, vinho e hidromel pareciam não terminar, saciando e impulsionando a libertinagem de todos. Não demorou muito para o Rei perceber a chegada da virgem prometida. Encantou-se com a beleza da jovem, e em um estalar de dedos pediu para os empregados arrumarem os seus aposentos e providenciarem mais alguns barris de hidromel. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Quando Rose entrou no quarto, o Rei cambaleava de um lado para o outro, balbuciando palavras sem nexo, em meio a soluços e arrotos. Ardilosamente a garota, em meio a beijos e carinhos, conseguiu colocar Cedric na cama, com a promessa de um tratamento especial. O Ogro Louco estatelou-se em seu leito, que incrivelmente suportava aquele peso todo. Rose aproveitou um momento de distração e pegou o frasco com o veneno. Começou a tirar a roupa e calmamente andou em direção ao Rei, que parecia enfeitiçado com a graciosidade da garota. Doce engano. Quando ela se aproximou, fingindo um beijo, sentiu um duro golpe nos dedos, fazendo-a largar o vidro no chão. Cedric era uma raposa velha, havia percebido as intenções da suposta rameira. Furioso, Ogro Louco apanhou uma adaga que repousava embaixo de seu travesseiro e partiu para cima da indefesa moça. Um, dois, três golpes foram desferidos, mas Rose conseguiu desviar de todos. O Rei tentou chutá-la algumas vezes, mas obeso e embriagado daquele jeito, viu os pontapés saírem sem velocidade alguma. Perto da entrada do cômodo estava o manto real, e com ele o cetro de ouro. Rose vislumbrou naquilo uma oportunidade. Rapidamente correu até lá e agarrou o objeto. Quando Cedric virou-se, tentando colocar ordem nas palavras para chamar os guardas, foi tarde demais. A jovem de 14 anos espetou o cetro no coração do Rei, girando o artefato enquanto a vítima, aflita, tombava no chão. O corpo recebeu uma dezena de talhos, à medida que a fúria e vendeta de Rose saciavam-se. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Quando os empregados encontraram o Rei, ensanguentado em meio a um mar vermelho, Rose já não estava mais lá. A garota fugiu por uma janela não muito alta, onde Madelaine a esperava com um cavalo e uma rota de fuga. Já do lado de fora do castelo, Rose cavalgava livre, agora sem peso nenhum no corpo, já que toda raiva que carregara durante nove anos havia se transformado em sangue. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-1301518961040850542012-02-08T15:00:00.003-02:002013-03-19T01:39:01.821-03:00Sushi<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqNSxE0wx1aDNqWFG1yzO7pxRTb0RzBOisG3oMTeh0WWOtGBWuAma92d2NuskGg6xHB4WFdDNtVn9ni6ZBDhwo9w6F3cpRiN2YgXe1vniTJNXiXbbOEyJbDSeDJ2O26ejbHiyB/s1600/Digaopb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqNSxE0wx1aDNqWFG1yzO7pxRTb0RzBOisG3oMTeh0WWOtGBWuAma92d2NuskGg6xHB4WFdDNtVn9ni6ZBDhwo9w6F3cpRiN2YgXe1vniTJNXiXbbOEyJbDSeDJ2O26ejbHiyB/s400/Digaopb.jpg" width="400" /></a></div>
<b><br />
</b><br />
Por Rafael Pesce<br />
Fotografia: João Castelo Branco<b><br />
</b><br />
<br />
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<br />
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">A caçada começava à noite. A roleta das
oportunidades girava freneticamente para Marcelo, jovem publicitário de 25 anos
que nutria dois prazeres na vida: a culinária e, principalmente, as mulheres. Usar
uma das paixões para encontrar a outra não era algo incomum. Como um autêntico
desbravador, vagava pela selva de restaurantes em busca de boa comida e uma
desejável companhia. O Watanabi, uma das casas de sushi mais famosas da cidade,
era um dos locais favoritos do rapaz. Incontáveis vezes o estabelecimento
serviu de covil para o conquistador, mas nunca uma presa havia causado tanto
impacto como a nova garçonete, Akemi, uma linda oriental de traços fortes, olhar
penetrante e um nome que fazia jus ao seu significado: brilhante beleza. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Tudo aconteceu em uma noite gelada de agosto. Uma
fina garoa insistia em atrapalhar os passos apressados das pessoas que saíam de
seus empregos. Mas enquanto alguns estavam em busca de um merecido descanso,
outros apenas começavam a labuta. Era o caso de Akemi, recém contratada do
Watanabi. O pouco tempo de trabalho foi suficiente para cativar uma horda de
clientes solteiros e desesperados por um minuto de atenção. Sentado em uma mesa
no fundo estava Marcelo, posicionado em um lugar onde pudesse observar cada
alma que transitasse por ali, da entrada até o banheiro feminino. O movimento naquele
dia não era dos melhores. Apenas meia dúzia de fregueses se atreveu a desafiar
a chuva nada convidativa e sair de casa. Entre eles, lógico, estava Marcelo,
que só tinha olhos para uma mulher: Akemi. Após degustar uma rodada de Temakis
e Chirashis, chamou-a discretamente:</span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">– Mais alguma coisa senhor? – Perguntou a sorridente
garçonete, exalando simpatia.</span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">– Sim, me chama de garçom que eu me sirvo de bandeja
pra você! – Não, Marcelo não falou isso. A cantada de pedreiro ficou só no
pensamento. O jovem tentou algo mais sutil:</span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">– Não, querida. Só gostaria de dizer que você é
linda! </span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">O elogio foi correspondido com um sorriso tímido.
Marcelo não sabia interpretar se era um bom ou mau sinal. Estava cada vez mais
intrigado com aquela mulher. Após pedir a conta, viu que um número de telefone
constava no verso. Estava com uma grafia que mais parecia desenhada do que
escrita. </span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Não demorou muito para um encontro ser marcado. Para
não parecer ansioso, esperou três dias para fazer a ligação. Na noite seguinte
os dois se encontraram em um local reservado, a saída lateral do restaurante. Marcelo
perdeu toda cautela ao ver Akemi usando um vestido extremamente provocante, com
aquelas lindas pernas brancas à mostra. Agarrou-a ali mesmo, deixando os instintos
mais primitivos tomarem conta. Os beijos fogosos, carinhos e apertões já duravam
alguns minutos, quando foram interrompidos por uma pequena picada. E foi então
que... </span></span></span></span></span></h6>
<h6 align="center" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">* * *</span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Marcelo acordou assustado. Ainda um pouco grogue,
viu que estava amarrado em uma cadeira, preso em uma espécie de calabouço. As
paredes estavam pintadas com diversas inscrições japonesas, incompreensíveis
para um simples ocidental. O jovem tentou se recuperar do susto e pensou em
tudo que havia acontecido. Apenas se lembrava dos beijos e depois um grande blecaute.
Para sorte do rapaz as cordas que o prendiam não estavam muito apertadas. Não
demorou muito para ele se livrar daquele imbróglio. A porta da suposta cela estava
destrancada. Do outro lado um imenso corredor. Atravessou correndo aquele
trecho, sentindo as imperfeições do chão de pedra castigarem seus pés
descalços. Ao final, se deparou com uma entrada. O silêncio, que até aquele
momento se fazia presente, foi quebrado por uma série de ruídos indecifráveis
que vinha do outro cômodo. Voltar para o calabouço ou encarar o desconhecido?
Essa era a dúvida de Marcelo. Resolveu seguir e abriu a porta.</span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Não era um simples aposento. O que o jovem
vislumbrou à sua frente era um verdadeiro salão, colossal, com uma ornamentação
oriental que fazia ele se sentir em outro século. Clic! Olhou para trás e viu
que a porta pela qual entrara estava trancada. Agora só podia continuar. Os
barulhos persistiam, porém, o salão aparentava estar deserto. Infeliz engano.
Abruptamente, as sombras que escondiam a origem dos grunhidos desapareceram, e
delas eles saíram: mortos-vivos, seres em decomposição, arrastando-se
lentamente em direção a ele. Mas não eram simples zumbis. Aquela dúzia de
devoradores de carne estava trajada com roupas samurais, um pequeno exército de
Zumbis-Samurais! Marcelo não queria acreditar, sempre gostou de filmes de
terror, mas jamais imaginou vivenciar um. A partir dali um verdadeiro jogo de
caça começou, mas dessa vez a presa era ele. </span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Zumbis são seres lentos, quando sozinhos não são
assustadores, sendo facilmente abatidos. Mas no momento em que uma horda se
junta, a situação é bem diferente. Marcelo olhou para os lados, procurando algo
que pudesse ajudá-lo. Para sorte dele, parte da decoração era composta por
antigas espadas samurais, a arma ideal para um combate homem x morto-vivo,
afinal, lâminas não precisam ser recarregadas. Munido de sua espada, esperou
pelo embate. O primeiro zumbi perdeu a cabeça, decepada com um golpe perfeito e
limpo. Os próximos dois tiveram braços e pernas arrancadas, o que permitiu que
Marcelo procurasse por alguma saída. Depois de observar por alguns segundos,
viu outra porta, localizada em um ponto crítico, onde a maioria dos zumbis se
encontrava. Seria impossível matar o grupo restante. A situação requeria o uso
de estratégia. Marcelo deslocou-se para o lado oposto, promovendo um berreiro
para chamar a atenção dos errantes. Enquanto os devoradores de carne se aproximavam
vagarosamente, um flanco vazio se apresentou: a rota de fuga perfeita. Marcelo
correu, correu como nunca tinha feito na vida, evitando qualquer tentativa de
mordida. A porta estava trancada. Forçou a maçaneta, sem sucesso. Um, dois,
três chutes foram necessários até ela ceder. Cambaleando e cansado seguiu pelo
próximo corredor. Chegou a uma cozinha oriental e viu quatro mulheres, de
costas, em meio a uma refeição. Gritou por ajuda. Sem resposta. Aproximou-se de
uma delas e tocou-a no ombro. Lentamente a mulher se virou, exibindo um rosto
apodrecido e com a mandíbula quase despencando. Marcelo deu um passo para trás.
Assustado, viu que havia encontrado um grupo de gueixas-zumbis, que devoravam
pedaços de carne humana em seus pratos. As quatro se levantaram e começaram a
perseguir o rapaz. Com a espada na mão, ainda afiada e com sede de sangue,
cortou a cabeça de três delas. A última estava perto demais, então Marcelo
apenas teve tempo de cravar a lâmina no corpo da oriental. Movimento errado. A
gueixa-zumbi continuou avançando. Sem muitas alternativas, Marcelo acabou
tirando os dois palitos que prendiam o cabelo de sua agressora e espetou-os na
cabeça. Sangue jorrou por todos os lados e uma nova oportunidade de fuga surgiu.
Correu para uma pequena porta de ferro no canto da cozinha e, ainda ofegante,
abriu o que pensava ser a saída para a liberdade. </span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><span style="font-weight: normal;"><span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">O que viu foi uma forte luz branca. Seriam os raios
de sol? Não deu tempo para pensar nisso. Ao abrir a porta, sentiu uma lâmina
perfurar o coração. Caiu ajoelhado no chão, com o sangue esvaindo-se do peito.
Antes dos olhos se fecharem viu Akemi, segurando uma espada na mão e às
gargalhadas enunciando: sushi para zumbis não é feito de peixe!</span></span></span></span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span class="messagebody"><span style="font-family: Arial; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;"> </span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span class="messagebody"><span style="font-family: Arial;"> </span></span></h6>
<h6 style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span class="messagebody"><span style="font-family: Arial;"> </span></span></h6>
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Para conferir o Blog da Revista Lama acesse <a href="http://revistalama.blogspot.com/">http://revistalama.blogspot.com</a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-33673535007136952802010-12-19T13:05:00.005-02:002011-01-01T16:36:48.228-02:00Por Uma Vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEig3EuH1sFLdn1YkwRut1UaGoQAySeYF30Za2H_nG-jjTbl68KlDMF5JVKbWlFO78EcDDu88Zobuq-QICiMuGJSFubi2Kzs2RaR5U7_A2RfxYKCHFZ-454Ij44SorYya3denSoN/s1600/capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="267" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEig3EuH1sFLdn1YkwRut1UaGoQAySeYF30Za2H_nG-jjTbl68KlDMF5JVKbWlFO78EcDDu88Zobuq-QICiMuGJSFubi2Kzs2RaR5U7_A2RfxYKCHFZ-454Ij44SorYya3denSoN/s400/capa.jpg" width="400" /></a></div><br />
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<div style="text-align: justify;">Uma decepção, por mais curta que seja, pode demorar uma eternidade para cicatrizar. Fazia alguns meses desde que um olhar de <a href="http://contosdefleming.blogspot.com/2010/11/tres-segundos.html">três segundos</a> havia acabado com a minha sanidade. A Mariana, Marcelo e Cléber, meus melhores amigos, tentavam me reconectar com o mundo de várias maneiras, me arrastando para shows, peças de teatro, cinema e até palestras motivacionais. Mas nada parecia adiantar, eu era um zumbi brincando de ser sociável.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mais uma sexta-feira à noite em minha vida. Aquele copo de whisky já estava presente em minha mão. Na vitrola rodava o “Deep In The Night” , o último grande disco da sensacional Etta James. Eu queria ficar sozinho, dentro da minha zona de conforto, onde a única pessoa que poderia me chatear era eu mesmo. Já haviam se passado 40 minutos desde que a agulha fez o primeiro chiado no LP. <a href="http://www.youtube.com/watch?v=dMpKWiPx5ig">“Blind Girl”</a> encaminhava-se para o seu encerramento quando foi interrompida pelo som ensurdecedor do meu interfone. Eram meus três insistentes amigos, dispostos a mais uma tentativa de me animar. Desci para abrir a porta e a Mariana já foi dizendo que iríamos para uma festa em uma boate da moda. O ingresso era caro, mas ela havia conseguido algumas cortesias com um amigo relações públicas. O preço da entrada não seria desculpa, o que dificultou minha tarefa de inventar algo e me obrigou a aceitar o convite. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Pegamos um táxi em frente ao meu apartamento e 10 minutos depois estávamos encarando uma fila que parecia interminável. Eu odeio filas, isso é algo que normalmente me faria trocar de lugar, mas havia prometido para a Mariana que enfrentaria aquela noite. Meia hora se passou e finalmente tínhamos conseguido entrar. O lugar estava lotado, encontrar um canto vazio era um verdadeiro exercício de paciência. Estava me sentindo um velho, não conhecia grande parte das músicas que tocava. Isso só piorava quando eu olhava para o lado e via todo mundo cantando e pulando aquelas canções que só podiam ser hits. Acho que estava vivendo muito tempo com meus vinis. Esse lugar não era feito para mim. Mulheres produzidas artificialmente, bêbadas, dançando uma música ensurdecedora que não deixava uma oportunidade para uma conversa que não fosse feita a base de gritos. Sempre fui tímido, nunca encontrei uma mulher que valesse a pena nesses lugares. Como começar algum tipo de papo nessa situação? O Marcelo tinha uma tese de que o importante era dizer qualquer bobagem para quebrar o gelo. Suas inúmeras tentativas começavam com um “é proibido fumar né?” ou então “o ministério da saúde adverte, fumar faz mal a saúde”. Era impressionante, mas esse tipo de coisa funcionava, para ele é claro. Jamais conseguiria fazer uma coisa dessas. A noite continuava, e eu já estava começando a ficar de saco cheio. A tal da Lady Gaga tocava a todo instante. Pessoas em êxtase, menos eu. Aquilo estava começando a me enlouquecer, gostaria de estar dentro de uma bolha, isolado de tudo. Aproveitei um minuto de distração dos meus amigos e fugi daquilo tudo, sem nem ao menos me despedir, evitando assim alguma possibilidade de convencimento da Mariana. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alguns degraus depois e eu estava na frente da boate. Nesse momento o som da Lady Gaga era abafado pelas janelas, que pareciam que iriam quebrar a qualquer instante, dado o volume daquilo. Preparava-me para pegar um táxi de volta para a solidão quando reparei em uma linda morena escorada na parede. Ela parecia não pertencer aquele lugar, passava a impressão de estar tão deslocada quanto eu. A garota tentava ligar insistentemente para alguém, mas o celular dela estava sem sinal. Em um momento de coragem repentina, onde a timidez foi posta de lado, ofereci meu celular emprestado. Maria Luíza, esse era o nome dela. Ela havia se separado das amigas e não conseguia encontrar mais ninguém. O celular foi a desculpa para uma conversa que parecia não ter fim. Ficamos um tempão discutindo sobre o porquê das pessoas adorarem boates como aquela, e claro que não chegamos a nenhuma conclusão. Falamos sobre filmes, séries de TV (ela era uma grande fã de “House”, ganhou muitos pontos nessa), música e até culinária. Não víamos o tempo passar. O papo estava bom demais para ser feito ao lado de bêbados fanfarrões esperando para entrar na festa. Sugeri irmos para outro lugar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A Maria Luiza tinha carro, e eu uma ideia. Conhecia uma rua que tinha uma vista incrível, dava para ver a cidade toda de lá. Demorava um pouco para chegar, mas pressa era o que menos tínhamos naquele momento. Entramos no carro e ela colocou um cd para tocar. Era Al Green! Poxa, um dos meus cantores preferidos. Demoramos 25 minutos dirigindo por várias ruas até chegar ao local que eu havia sugerido. A rua ficava no topo de um morro, perto de alguns condomínios de classe média alta. A vista era linda. Aquele silêncio contrastava com o frenesi da noite de sexta-feira. Ela estacionou o carro e ficamos lá conversando, agora com um clima providencial. A gente sabe que uma pessoa faz a diferença quando momentos de silêncio não são constrangedores, e era assim com a Maria Luíza. Nossos olhares já não conseguiam se separar, eram intensos. Em uma curta pausa de conversa, em um ímpeto incontrolável, beijei-a. O Al Green estava cantando <a href="http://www.youtube.com/watch?v=ICKToz7BLLA">“Tired Of Being Alone”,</a> o que parecia adequado para aquele momento. Fazia tempo que me sentia um porto seguro sem nenhum navio para ancorar, até aquela noite. Aquele beijo me fez sentir que havia conhecido uma pessoa e um amor que não duraria segundos, minutos, horas, dias, semanas ou anos, mas sim uma vida inteira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-43507329202960181822010-11-17T00:14:00.005-02:002010-11-17T09:27:23.342-02:00Três Segundos<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTblCW57dzF4Rla2-fNh5WLxKYtqqiLAhVN1PXquCzgtZmxr_LrSX2sxpqqWumMOFlklbS4P2L3Izi60gQY9TuQozGN9z9STAMRzYrhP4X5gsuhUyCO2VsI0eKGCzTA8gBB959/s1600/3segundos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" px="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTblCW57dzF4Rla2-fNh5WLxKYtqqiLAhVN1PXquCzgtZmxr_LrSX2sxpqqWumMOFlklbS4P2L3Izi60gQY9TuQozGN9z9STAMRzYrhP4X5gsuhUyCO2VsI0eKGCzTA8gBB959/s400/3segundos.jpg" width="300" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Edifício Estrella, 189, apartamento 205. Esse era meu destino naquela manhã chuvosa de sábado. A Mariana, minha amiga de mais de 10 anos, morava em um pequeno e aconchegante apartamento. No corredor de entrada, paredes brancas com quadros de filmes antigos do Hitchcock: “Um Corpo Que Cai”, “Os Pássaros” e “Janela Indiscreta”. No centro da sala, que ficava em conjunto com a cozinha para poupar espaço, uma pequena mesa, sempre com um delicioso e quente café a minha espera. Aquele poderia ter sido mais um sábado normal, daqueles em que fico horas e horas conversando com a minha amiga e depois pego um ônibus de volta para casa. Mas não, aquele não era um dia ordinário, naquele sábado eu iria descobrir que três segundos são suficientes para se apaixonar por uma pessoa.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Passara a manhã inteira bebericando café, beliscando bolachas caseiras e discutindo assuntos de extrema importância com a Mariana. Quem foi o melhor Coringa no cinema, Jack Nicholson ou Heath Ledger? Qual a melhor trilogia de todos os tempos, “Star Wars” ou “Senhor dos Anéis”? O final de “Lost”, genial ou decepcionante? Tínhamos tempo de sobra para falar sobre todas aquelas trivialidades importantes para a gente. Após algumas horas de conversa a Mariana foi me acompanhar até a portaria. Pegamos o elevador, mesmo ela morando no segundo andar, e demoramos exatos 50 segundos até chegar ao térreo. A porta se abre e então eis que a vejo!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sorriso discreto! Olhar penetrante! Brigitte Bardot morena! Canção de amor sem fim! Cheiro que hipnotiza! Muitas coisas passaram pela minha cabeça durante os três segundos que pude vê-la. O pouco tempo havia sido suficiente para criar a paixão platônica mais arrebatadora da minha vida. Voltei transtornado para casa. Sentia-me embriagado, mesmo sem ter bebido uma gota de álcool naquele dia. A cidade girava, meus pensamentos idem, tudo estava confuso, não conseguia pensar em mais nada, a não ser naqueles 180 segundos surreais. Cheguei em casa, joguei o casaco na cadeira mais próxima, coloquei um disco da Ella Fitzgerald na vitrola e abri minha garrafa de whisky na tentativa de me acalmar. Enquanto a Ella cantava “I Concentrate On You” fui colocando as ideias no lugar, o que não queria dizer que minha obsessão pela menina do elevador tivesse diminuído. Acabei dormindo o resto da tarde, só acordando à noite. Resolvi ligar para a Mariana e contar sobre os três segundos mais intensos da minha vida...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fiquei quase uma hora no telefone, tentando de alguma maneira expressar em palavras aquilo que eu apenas conseguia sentir. A Mariana escutou tudo com calma e me contou algumas coisas que ela sabia sobre a menina misteriosa. O nome dela era Nina, tinha apenas 19 anos e morava no prédio há pouco tempo, coisa de dois anos. Parece que o pai dela trabalha em alguma multinacional e por isso a família se mudava bastante. Era pouco, queria saber mais sobre ela, mas pelo menos minha obsessão já tinha nome: Nina. Aquelas duas sílabas ecoavam sem parar na minha cabeça, Ni-na Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na, Ni-na...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Passei a visitar a Mariana com maior frequência. Adorava a ideia de correr o risco de esbarrar com a Nina a qualquer momento. Chegava ao Edifício Estrella de manhã, de tarde, de noite, até de madrugada para ver se a encontrava. Nada! Já se passavam duas semanas desde meu encontro no elevador. Minha impaciência e ansiedade chamavam a atenção dos meus amigos, principalmente da Mariana, que já começava a ficar preocupada até com a minha saúde. Eu poderia muito bem descobrir o apartamento da Nina, bater lá e dizer o quanto ela era importante para mim, mesmo sabendo que ela poderia nem lembrar da minha pessoa, provavelmente me acharia um louco e me expulsaria de lá sem titubear. Mas eu não tinha tamanha cara de pau, era muito tímido, contava com um encontro casual para quem sabe conseguir pronunciar algumas palavras que pudessem fazer aquela menina ter um mínimo interesse por mim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Um mês se passou, eu estava 5 kg mais magro e não estava me alimentando direito. Minha barba estava toda torta, não tinha mais paciência para apará-la corretamente. As músicas alegres do meu acervo de discos deram lugar a um repertório triste. Ouvia sem parar um álbum do Frank Sinatra chamado “Where Are You”, uma obra temática em que todas as músicas tratavam de desilusões amorosas. Estava no fundo do poço, mas precisava arranjar forças para me reerguer. Resolvi fazer mais uma tentativa. Fui para a parada de ônibus e peguei a primeira condução com destino ao Edifício Estrella. Os 20 minutos de deslocamento foram provavelmente os mais longos da minha vida. Podia jurar que havia passado um dia inteiro sentado naquele ônibus, olhando para o além. Cheguei ao meu destino, desci rapidamente e parei! Lá estava ela!</div><div style="text-align: justify;"><br />
Nina! Sim, ela mesmo, na frente do edifício, acompanhada de sua família! Quando ameacei dar os primeiros passos em direção ao outro lado da rua me dei conta que um caminhão chegava perto de onde eles estavam. Na carroceria eu apenas li BENITEZ MUDANÇAS. Não, não podia ser, será que ela iria se mudar de novo?! O caminhão já estava carregado, provavelmente deviam ter passado a manhã inteira em função disto. O veículo arranca, Nina e sua família entram em um carro e o seguem. Toda essa cena durou exatos 57 segundos. Um minuto, esse tinha sido o tempo do meu amor platônico. Nunca havia falado com a Nina, não cheguei nem perto disso, mas internamente havia vivido aquele amor de forma intensa. A devastação voltou a tomar conta de mim. De volta para casa uma garrafa de whisky e dezenas de discos de jazz estavam a minha espera. A noite seria longa...</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-14318018670127361222010-08-25T19:11:00.004-03:002010-08-25T19:47:08.177-03:00Insônia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCmDBU00bJ1uVMdGOikCaTClk0uBxp1kzBaU-FkcDYHNirA8RBYnmDPBHu23lqFK7JAqdSs1uRZouJ9kRv6lqnDxPuj8NEA8ufwPKIoR8jgnqEA7bakW4f25Pj64_4_wuEZBuz/s1600/insonia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="315" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCmDBU00bJ1uVMdGOikCaTClk0uBxp1kzBaU-FkcDYHNirA8RBYnmDPBHu23lqFK7JAqdSs1uRZouJ9kRv6lqnDxPuj8NEA8ufwPKIoR8jgnqEA7bakW4f25Pj64_4_wuEZBuz/s320/insonia.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Prefácio: Meu amigo Fabz, do <em><a href="http://contosdapolpa.blogspot.com/">Contos da Polpa</a></em>, me lançou um desafio que demorei para aceitar: escrever um miniconto. Este é o primeiro de, quem sabe, vários.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A batalha pelo sono dura em média duas horas. Os problemas cotidianos passeiam pelo roteiro de pensamentos, normalmente norteando pólos negativos. Gostaria de ter um botão de <em>on</em> e <em>off </em>acoplado na cabeça, desta maneira dormir seria uma tarefa muito mais fácil, demandando apenas o tempo de deslizar o botão em direção ao <em>off</em>. O quarto é silencioso, mas infelizmente as ideias do momento são barulhentas e tagarelas. As pernas estão sempre inquietas, debatem-se incessantemente. Troco de posição, não adianta. Viro o corpo do avesso, fazendo o sangue circular ao contrário, o alívio é apenas momentâneo. Um exército de relaxantes musculares é chamado. Uma, duas, às vezes três pílulas descem pela garganta, o que garante pelo menos oito horas de descanso ao corpo. Mas a mente continua ativa, e quando ela finalmente cede para o sono é hora de outra batalha: sonhos x pesadelos.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br />
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</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-81553352221591539852010-07-28T18:48:00.005-03:002010-08-01T23:04:51.811-03:00Insipiência<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9RK62Lyrpf6IbqqotCw7gIlIKp90izw3vOXF8tmopVxpoi-IzZHQQrcurT5bWd3TIMlrDwSgc1A17XLmmkJFHiDG1HdfQt_S0q0i7SnU1JSaw3EI4csPFlRNT8JdIsEji2FlZ/s1600/insipiencia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" bx="true" height="302" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9RK62Lyrpf6IbqqotCw7gIlIKp90izw3vOXF8tmopVxpoi-IzZHQQrcurT5bWd3TIMlrDwSgc1A17XLmmkJFHiDG1HdfQt_S0q0i7SnU1JSaw3EI4csPFlRNT8JdIsEji2FlZ/s400/insipiencia.jpg" width="400" /></a></div><br />
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<em>“Para Bel, porque você é um observatório que me faz enxergar”</em><br />
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<div style="text-align: justify;">A frase acima estava estampada, com letras que mais pareciam desenhadas de tão caprichadas, na capa da edição usada que eu acabara de adquirir de “Palomar”, do Ítalo Calvino. Eu havia comprado o livro em um sebo do centro da cidade, e devido a enorme pressa não vi a declaração escrita dentro do livro. Mas sinceramente gosto dessas coisas, tenho dezenas de vinis e livros usados com frases das mais diversas, são demonstrações de amor e carinho entre namorados, familiares, amigos e até amantes. Os objetos usados parecem que carregam um sentimento extra, uma energia acumulada ao longo dos anos que faz daquele disco ou livro único em todo mundo. Afinal, aquele exemplar de “Palomar”, com aquela frase, era uma edição que só eu possuía. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A declaração no início do livro só fez sentido depois que comecei a lê-lo. “Palomar” é uma publicação de contos, em que o personagem homônimo, um observador nato, passa a contemplar, devanear e escrever sobre as mais diversas coisas, desde uma simples onda até os belos seios de uma mulher ou o acasalamento de tartarugas. Ele era uma espécie de observatório, assim como a tal Bel, que fazia um provável namorado enxergar. Mas por que será que esse livro foi parar em um pequeno sebo onde só os transeuntes mais atentos e perspicazes entram? Essa era uma pergunta que martelava na minha cabeça. Quem seria Bel? Por que ela se livrou do livro? Será que ela era uma mulher interessante, digna do meu interesse? Dizem que a curiosidade move o homem, e comigo não era diferente. No outro dia resolvi voltar ao sebo em busca de respostas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">José Antônio da Conceição, conhecido popularmente como Zé do Sebo, vende livros, revistas e vinis usados há 20 anos. Seu estabelecimento fica localizado perto do Mercado Público da cidade, em uma rua que apesar de central é pouco movimentada. Ele cativou um público fiel ao longo dos anos, responsável pela constante circulação de materiais disponíveis no sebo. O senhor, no alto dos seus 60 anos, conhece praticamente todos os frequentadores do local, e seria a pessoa ideal para me falar sobre a dona original de “Palomar”. Voltei ao sebo pela manhã bem cedinho para evitar um movimento maior e ter a oportunidade de conversar tranquilamente com o Zé do Sebo. Chegando lá expliquei toda a situação paranóica na qual eu me encontrava, calmamente ele me respondeu que conhecia a Bel e que ela era a sua cliente mais fiel, há anos. O relato a seguir é a curiosa história que me foi passada:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Anabel, ou Bel, como ela gosta de ser chamada, é uma pessoa 100% sentimento. A beleza de uma mulher de 1,70 de altura, com cabelos longos e lisos, olhar penetrante e sorriso encantador, esconde uma pessoa extremamente ciumenta, dona de dezenas de relacionamentos frustrados em seu currículo amoroso. Mas o mais estranho estava por vir, já que uma curiosa característica dita a vida dela. Quando um relacionamento termina, ela não consegue manter nada, absolutamente nada em sua vida que a lembre de seus ex-namorados. É nesta parte que entra o Zé do Sebo. Ao longo de 15 anos Bel vem despejando dezenas de objetos por lá, e “Palomar” era apenas mais um livro que ela se livrou após o fim de um namoro. Depois deste último término ela ficou com trauma do Ítalo Calvino e nunca mais leu nada do autor. Essa era uma situação comum na bolha sentimental que envolvia a moça. Bel já gostou muito de Rock, mas quando Marcelo terminou com ela, nunca mais escutou nada do gênero, vendendo sua coleção inteira de discos do Led Zeppelin e dos Beatles. O mesmo aconteceu com o Soul – e lá se vai Aretha Franklin, Otis Redding, James Brown – MPB, Bossa Nova, Blues – vendeu por uma bagatela aquela coleção de dvds do Scorsese sobre o estilo – Samba, Jazz, discos e mais discos de infindáveis artistas foram dispensados graças ao fim de vários relacionamentos. Atualmente Bel está escutando apenas World Music, música do oriente, Tailândia, Coréia do Sul, China, algum desses países, o Zé do Sebo não soube precisar. Pergunto-me em voz alta que tipo de livros será que Bel estaria lendo. O dono do sebo me responde que não tem a mínima ideia, já que ela deixou por lá livros da Agatha Christie, Stephen King, Nick Honrby, José Saramago, Paulo Coelho (esse eu concordo que ela devia se livrar), Truman Capote, Tom Wolfe entre tantos outros escritores. Bel era uma pessoa em constante transformação, sua vida, seus pertences, seus hábitos diários mudavam de acordo com os relacionamentos, e ela nunca voltava a ser como antes. No campo de visão de Bel não podia haver nada que a lembrasse de algum ex-namorado, ex-affair e até ex-ficante, ela enlouqueceria na certa. Fico pensando se não haverá um dia em que ela não terá mais o que fazer, se não chegará um ponto em que qualquer coisa, um simples toque de telefone ou então o inocente ato de ligar a televisão a lembre de algum ex de forma traumática.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Depois de conhecer a história da Bel e matar a minha curiosidade, encerrei minha busca pela dona do exemplar de “Palomar”. Não queria prosseguir com esta história platônica de conhecer a personagem da frase, não tinha o mínimo interesse em encontrá-la pessoalmente, afinal, o risco de ver futuros presentes parados no Sebo do Zé era gigante!</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-51874523678098454802010-07-11T12:12:00.003-03:002010-07-11T20:55:10.949-03:00Separação<div style="text-align: justify;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhRqak3nriyEYNjrqTszFXK8gjnt73_kw0Ow5KwkabpgtOOwBq3vS9bxG1-vNrFwBkPnm7xQnFcZPLcxQmYnuATG3HU8bkMaZtkONgEbJDWrZeWsbRpdTboAJUMOc7F9x7cPh1/s1600/capasep.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="392" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhRqak3nriyEYNjrqTszFXK8gjnt73_kw0Ow5KwkabpgtOOwBq3vS9bxG1-vNrFwBkPnm7xQnFcZPLcxQmYnuATG3HU8bkMaZtkONgEbJDWrZeWsbRpdTboAJUMOc7F9x7cPh1/s400/capasep.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Roberto e Elisa viveram um relacionamento de quatro anos. O desgaste proporcionado pelo tempo e as constantes brigas geradas pelo ciúme do rapaz levou a garota a terminar tudo com ele. Porém, a menina ainda tinha um afeto muito grande pelo ex-namorado e uma estranha amizade continuou entre os dois. Quatro meses se passaram desde a separação, e Roberto controlava diariamente o ciúme que sentia por saber que Elisa estava vendo outra pessoa. Hoje o domingo é de sol, e Roberto e Elisa estão no parque, não mais de mãos dadas como faziam antigamente, mas caminhando lado a lado, tentando disfarçar um certo constrangimento da situação:</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Então Beto, como vai a vida?</div><div style="text-align: justify;">- Ah, ta indo...e contigo, tudo tranquilo?</div><div style="text-align: justify;">- Sim, já estou melhor daquela gripe que tinha te comentado no outro dia.</div><div style="text-align: justify;">- Não era nada sério então?</div><div style="text-align: justify;">- Não não, só um pouco de dor de garganta, mas agora está tudo bem mesmo, não precisa se preocupar.</div><div style="text-align: justify;">- Mas tu tomou remédio, ta se agasalhando direitinho?</div><div style="text-align: justify;">- Sim, a mãe estava me visitando e não deixou faltar nada lá em casa.</div><div style="text-align: justify;">- Qualquer coisa que precisar tu sabe que pode me ligar, né?</div><div style="text-align: justify;">- Claro, fica tranqüilo.</div><div style="text-align: justify;">- E o feriado semana que vem, vai ficar por aqui mesmo?</div><div style="text-align: justify;">- Acho que vou visitar minha prima na praia, mas ainda não é certo. E tu?</div><div style="text-align: justify;">- Vou ficar por aqui mesmo.</div><div style="text-align: justify;">- Alguma festa?</div><div style="text-align: justify;">- Ah, não sei, não tenho saído muito pra falar a verdade. Ultimamente minha vida é sair de casa para faculdade, faculdade para o estágio, e do estágio para casa.</div><div style="text-align: justify;">- Hum....esses dias fui naquele restaurante tailandês que costumávamos ir.</div><div style="text-align: justify;">- Faz séculos que não vou lá, desde que terminamos pra falar a verdade.</div><div style="text-align: justify;">- Hum...Beto...quero saber se tu quer continuar sendo meu amigo ou se é melhor perdermos o contato, sinto muita mágoa quando tu fala comigo.</div><div style="text-align: justify;">- Linda, eu queria ser teu amigo, mas parece que simplesmente nossa amizade não existe, nós quase não conversamos mais, não saímos, não nos vemos, não nos ligamos, e eu confesso que quando eu penso que tu tá com outro eu sinto muita mágoa mesmo, não da para esconder esse tipo de coisa...</div><div style="text-align: justify;">- Eu sei, mas eu me afasto por achar que é impossível conversarmos e fazermos coisas divertidas juntos, porque sempre vou me achar culpada pelo que aconteceu, talvez isso demore para acontecer Beto.</div><div style="text-align: justify;">- Pois é, mas sei lá, podia me ligar de vez em quando, dar um sinal de vida, qualquer coisa. Eu sinto tua falta, mesmo como amiga, mas às vezes se eu não me manifesto parece que eu nem existo mais pra ti.</div><div style="text-align: justify;">- Claro que existe Beto, tu sabe que foi e é muito importante pra mim. Mas nossas vidas tomaram rumos diferentes, chegamos numa encruzilhada e cada um foi pra um lado. Vamos tentar melhorar nossa relação de amizade, sem muita mágoa Beto, sem provocar ciúmes ou dor, mesmo que seja difícil, ou então vamos nos afastar de vez...</div><div style="text-align: justify;">- Não quero me afastar de ti, mas é que eu fico triste às vezes...</div><div style="text-align: justify;">- Eu sei, é por isso que eu sumo, sou culpada.</div><div style="text-align: justify;">- Ver fotos tuas com outra pessoa me destrói o coração linda, é triste, mas eu ainda sinto ciúmes...</div><div style="text-align: justify;">- Então é melhor nos afastarmos de vez...</div><div style="text-align: justify;">- É isso que tu quer?</div><div style="text-align: justify;">- Se tudo que eu faço te provoca dor não tem porque a gente querer ser amigos, eu nunca vou esquecer tudo que passamos juntos, e não tem nem como comparar o que vivemos com qualquer outro relacionamento, mas pra mim é difícil, me corrói por dentro, me sentir responsável pela dor de alguém...mas não posso fazer nada...</div><div style="text-align: justify;">- Mas eu não quero me desligar de ti...</div><div style="text-align: justify;">- Então temos que agir como adultos, nossa relação só vai melhorar o dia que tu me aceitar como amiga, sem esperanças de uma volta...</div><div style="text-align: justify;">- Mas eu não tenho mais esperanças, perdi todas...mas isso não implica na relação de eu gostar ou não de ti...</div><div style="text-align: justify;">- Então vamos levando aos poucos, podemos mudar e talvez as mágoas irão embora. Isso não acontece de uma hora pra outra.</div><div style="text-align: justify;">- Independente de tudo, tu sabe que sempre vai rolar uma ponta de ciúmes, apesar de tu ter acabado comigo aposto que seria estranho se tu me visse com outra mulher. </div><div style="text-align: justify;">- Eu sei disso...</div><div style="text-align: justify;">- Enquanto não arrumar um outro alguém vou ficar eternamente preso nessa depressão...</div><div style="text-align: justify;">- Reserva um tempo pra ti Beto, é o melhor a fazer. Bom, agora eu preciso ir, podemos nos ver amanhã se tu quiser...</div><div style="text-align: justify;">- Claro...</div><div style="text-align: justify;">- Até mais então! Beijinho!</div><div style="text-align: justify;">- Até...tchau...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Roberto não apareceu para encontrar Elisa no outro dia. Depois daquela conversa no parque ele finalmente entendeu que não conseguiria nutrir outro sentimento pela ex-namorada que não fosse o mais puro e intenso amor de homem e mulher. Para ele, a amizade estava fora de cogitação... </div><div style="text-align: justify;"></div>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-22916743593258670512010-06-30T22:56:00.008-03:002010-07-06T18:11:43.518-03:00O Voyeur<div style="text-align: justify;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIa2NWmGaVdBV7M5O4wuVQkD01t64Le0cD2kY0hVFKDUkDSZdPGtFF0idCBBpBsntWcuez7s9e-_izsiAYyc8hR2qSO_JBSnAlwpSq5vZ7MYKpgt4bdk5piQ2-bMC5MqJMu-Rt/s1600/O+Voyeur.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="292" ru="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIa2NWmGaVdBV7M5O4wuVQkD01t64Le0cD2kY0hVFKDUkDSZdPGtFF0idCBBpBsntWcuez7s9e-_izsiAYyc8hR2qSO_JBSnAlwpSq5vZ7MYKpgt4bdk5piQ2-bMC5MqJMu-Rt/s400/O+Voyeur.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">Uma janela é um olho gigante para o mundo. Do alto do décimo andar do meu apartamento observo diariamente centenas de pessoas correndo para todos os lados. Pela minha visão todas parecem formigas, isso até eu pegar o meu companheiro inseparável, o binóculo. Eu confesso, sou um voyeur, adoro passear meu olhar pelas cenas cotidianas do meu quarteirão. Quando finalmente encontro algo que prenda meu interesse sou capaz de ficar horas e horas, apenas observando o que acontece, mesmo se a ação parecer um filme preto e branco dos anos 40 e não um frenético blockbuster com sei lá quantos frames por segundo. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Semana passada vi uma cena curiosa. Um mendigo virou a esquina e lentamente veio empurrando o seu carrinho de supermercado, carregado com diversos objetos que deveriam formar a sua casa móvel. Ele estava bem agasalhado, vestia um casaco alguns números maiores que o necessário, o que no caso era um benefício, já que estávamos no inverno. A calça tinha alguns furos, o que deveria incomodar em dias de forte vento. Porém algo me chamou a atenção, o mendigo usava apenas uma bota, calçada no pé esquerdo. O pé direito estava lá, imundo e sujeito às feridas causadas pela longa caminhada diária que o cidadão deve fazer. Ao entrar na minha rua o mendigo provavelmente andou por uns 300 metros até encontrar uma lixeira. Durante uns dois minutos ele revirou todo aquele lixo, até puxar alguma coisa lá de dentro: uma bota. Ele abriu um enorme sorriso, assim como eu, que também estava feliz por ele ter encontrado algo útil no meio de tudo aquilo. Mas o momento de felicidade durou pouco. Quando o mendigo foi colocar a bota ele constatou que ela era do pé esquerdo, exatamente igual a que ele já tinha. Muito irritado, ele jogou o calçado longe, no meio da rua, quase acertando um carro que passava por lá.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Outro dia vi um casal saindo de uma sorveteria. Ele era magricelo e usava um óculos fundo de garrafa que em nada ajudava a disfarçar o excesso de gel no cabelo e as muitas espinhas na cara. O guri estava usando uma camiseta do "Arquivo X", um número maior do que o necessário, mas estava com um enorme sorriso no rosto. A menina era gordinha, o que não a impedia de usar um vestido preto que alcançava os seus joelhos. O cabelo preto batia nos ombros e o sorriso dela também ia de uma ponta a outra. Vendo assim poderia dizer que era um casal feio, mas analisando novamente o que mais chamava a atenção era a felicidade dos dois, eles se beijavam sem se importar com a sujeira que o sorvete fazia cada vez que os lábios se tocavam. Os dois se encontraram no mundo, formavam um casal perfeito. Existe amor mais puro que esse? Quem sabe só o de um torcedor por seu time de futebol.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ontem constatei que não era o único observador da rua. Na frente do meu prédio fica uma <a href="http://contosdefleming.blogspot.com/search/label/A%20Lavanderia">lavanderia </a>que pertence a um casal chinês. Já fazia alguns dias que havia percebido que um dos clientes olhava incessantemente para uma linda mulher que recentemente começou a frequentar o local. Porém, ontem o rapaz não se contentou em apenas observar, e começou uma sutil perseguição a moça. Meu olhar se perdeu quando os dois ultrapassaram a segunda quadra. Fico imaginando o que aconteceu com esses dois...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Hoje o dia está calmo, a mesma senhora que diariamente visita a padaria está saindo com o seu cachorro de raça indefinida, o marido que deixou a mulher no psicólogo já foi conversar com a moça do café – os dois têm um caso – e agora vejo que a estonteante loira que coloca os pés na minha rua todos os dias às 9 da manhã acaba de aparecer no meu campo de visão. Melhor deixar meu binóculo aqui e descer, afinal, há coisas que é melhor observar de perto!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-63695778610326605292010-06-21T19:04:00.006-03:002011-02-01T12:26:34.998-02:00Papo de Cinema<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHKMPJBZapnDnIv_-zjXtGOgGze0UhIlLsVbYen1DETsSGviIghdIJnJ7rdkpfLI523M3DDxM3eqnovd9Y8-zOUyqsXSJ2dMrm4hGcTmOhovEjbIP8JL4EIPNpygxUup1U7si2/s1600/foto.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="352" ru="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHKMPJBZapnDnIv_-zjXtGOgGze0UhIlLsVbYen1DETsSGviIghdIJnJ7rdkpfLI523M3DDxM3eqnovd9Y8-zOUyqsXSJ2dMrm4hGcTmOhovEjbIP8JL4EIPNpygxUup1U7si2/s400/foto.jpg" width="400" /></a></div><br />
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<div style="text-align: justify;">Chovia muito lá fora. O chiado do vinil reproduzia um dueto de Louis Armstrong e Ella Fitzgerald cantando “Moonlight In Vermont”. Enclausurado dentro do meu quarto, localizado no oitavo andar de um antigo prédio no centro da cidade, pensava no que fazer para evitar o marasmo de uma sexta-feira à noite nestas condições. O relógio em forma de guitarra marcava 11 da noite, um pouco tarde para planos elaborados e que dependessem de companhias. Dadas às circunstâncias resolvi fazer uma das minhas atividades favoritas: a ida solitária ao cinema. Para outras pessoas pode parecer uma tarefa ingrata, principalmente em sextas, sábados e domingos, onde você fica perdido no meio de casais de namorados e famílias com crianças barulhentas, daquelas que adoram confabular durante todo o filme. Mas eu já estava acostumado, a viagem desacompanhada ao cinema provocava reflexões individuais interessantes. Filmes são como uma terapia, é quase como ler um livro de auto-ajuda.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para minha sorte um dos poucos cinemas de rua da cidade ficava há apenas três quadras do meu prédio. Ele não apresentava as melhores condições, sua arquitetura antiga e robusta demonstrava o descaso do tempo com o que antigamente era chamado de “Grande Cine Imperial”. Quando cheguei ao meu destino me deparei com apenas uma opção, uma sessão à meia noite de um filme chamado “Mal dos Trópicos”, de um diretor com um nome impronunciável, Apichatpong Weerasethakul. A sinopse do filme era estranha. Na trama, um jovem soldado se apaixona por um camponês, depois um deles desaparece e se transforma em um animal e o outro vai à floresta em busca dele. Muito estranho, parecia uma mistura de “Brokeback Mountain” com “Tayná 2 – A Aventura Continua”. Mas era a única opção para o horário, então resolvi encarar o desafio. Faltavam cinco minutos para o início da sessão quando entrei na sala, praticamente deserta, se não fosse por um casal na primeira fileira e uma jovem sentada em um canto da parte superior. Ela era magra, com uma estatura mediana, cabelos curtos, tocando levemente o ombro. Mas o que chamava mais a atenção eram os olhos verdes e brilhantes, que contrastavam com a escuridão da sala. Sentei na última fileira, mas no canto oposto da bela moça. A sessão iniciou sem mais delongas, sem nenhum trailer ou propaganda antecedendo a exibição. Esse tipo de coisa acontece quando a sessão está vazia. O filme começou, e sinceramente não era o tipo de entretenimento que eu precisava neste dia. Os minutos iam passando e os olhos cansados iam cedendo à tentação do sono. Meia hora se passou quando finalmente encostei a cabeça na poltrona vazia ao lado e adormeci. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Acordei uma hora e meia depois. Tudo estava escuro, logo ao abrir os olhos não conseguia enxergar um palmo a minha frente. Um silêncio mórbido preenchia a enorme sala. Eu estava sonhando? Não, poderia ser mais descrito como um pesadelo. Eu ainda estava na sala de cinema, eram quase duas horas da manhã, o cinema estava fechado e eu preso dentro daquela sala. Os tempos áureos do Imperial eram coisa do passado, pelo visto até os funcionários acompanharam a decadência e não foram capazes de ver que ao fundo da sala alguém estava dormindo. Puxei o celular do bolso, tentando iluminar alguma coisa a minha frente. Caminhei até a saída e constatei que a porta realmente estava trancada. Para piorar a situação o celular não tinha sinal, chamar por ajuda estava fora de questão. Quando fiz o trajeto de volta para a poltrona vi que eu não era o único na mesma situação. No lado oposto ao meu estava a bela jovem, dormindo. Toquei levemente no seu ombro, tentando acordá-la, e com um susto ela despertou:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ahn? O que aconteceu?</div><div style="text-align: justify;">- Olha, tu dormiu durante o filme. </div><div style="text-align: justify;">- Dormi?</div><div style="text-align: justify;">- Sim, mas se serve de consolo não foi a única. Eu também dormi e só fui acordar há poucos minutos. Tenho más notícias, estamos trancados aqui na sala.</div><div style="text-align: justify;">- Como assim trancados? </div><div style="text-align: justify;">- O cinema fechou, e o incompetente do funcionário provavelmente não nos viu aqui no fundo. </div><div style="text-align: justify;">- Meu Deus, inacreditável!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alguns minutos se passaram até que finalmente nos recuperamos do baque e nos acostumamos com a ideia de que teríamos que passar uma noite inteira trancados em uma sala de cinema. Duas pessoas que pareciam habituadas a frequentar aquele ambiente sozinhas estavam desfrutando de algo que não estavam acostumadas: companhia. Com um toque de curiosidade na voz fui indagado:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Então, como você conseguiu dormir no filme? </div><div style="text-align: justify;">- Bah, sinceramente não era o tipo de filme que eu precisava pra hoje. </div><div style="text-align: justify;">- Eu também não estava muito no clima, mas era a única sessão disponível. </div><div style="text-align: justify;">- Eu precisava sair de casa hoje e cinema é sempre uma das minhas primeiras opções.</div><div style="text-align: justify;">- Pra mim também! Não passo uma semana sem ver algum filme no cinema.</div><div style="text-align: justify;">- Sabe, filmes são meus companheiros. Sempre quando eu preciso pensar na vida, em relacionamentos, pra onde as coisas estão indo, sempre quando me deparo com isso escolho um filme pra me acompanhar. Filmes são como uma terapia, sabe!</div><div style="text-align: justify;">- Se sei, tenho uma relação parecida. Não só com filmes, mas com livros também. </div><div style="text-align: justify;">- Eu tenho alguns filmes que eu chamo de “filmes muleta”.</div><div style="text-align: justify;">- Filmes muleta???</div><div style="text-align: justify;">- Sim, são aqueles filmes que eu sempre recorro e revejo quando preciso pensar em algo.</div><div style="text-align: justify;">- Ah é? E que filmes seriam esses?</div><div style="text-align: justify;">- São três! “Alta Fidelidade”, “Sideways – Entre Umas e Outras” e “Encontros e Desencontros”. </div><div style="text-align: justify;">- Nossa, adoro “Encontros e Desencontros”! A Sophia Coppola é demais! E o Bill Murray está fabuloso nesse filme!</div><div style="text-align: justify;">- Bill Murray é o cara, até quando aparece pouco ele rouba a cena.</div><div style="text-align: justify;">- É? Está falando especificamente do que?</div><div style="text-align: justify;">- De “Zumbilândia”. </div><div style="text-align: justify;">- Não vi esse filme ainda!</div><div style="text-align: justify;">- É um filme de zumbis misturado com comédia, mas não é tão bom quanto “Todo Mundo Quase Morto”.</div><div style="text-align: justify;">- Ah, esse eu vi. Engraçadíssimo!</div><div style="text-align: justify;">- Mas meu filme preferido do Bill Murray é “Feitiço do Tempo”, nem todo mundo lembra desse filme quando se fala nele, mas sei lá, adoro esse filme.</div><div style="text-align: justify;">- Ah, é bem legal mesmo! Acho que o Bill Murray foi muito injustiçado quando não levou o Oscar por “Encontros e Desencontros”, fiquei muito triste aquela noite.</div><div style="text-align: justify;">- É! Coisa parecida aconteceu quando o Paul Giamatti não levou o Oscar de melhor ator por “Sideways”, aliás, nem indicado ele foi. </div><div style="text-align: justify;">- Poxa, vou te confessar uma coisa, não vi esse filme. </div><div style="text-align: justify;">- Não??</div><div style="text-align: justify;">- Não...rsrsrs</div><div style="text-align: justify;">- Nossa, esse filme é demais. Alías, seria um filme perfeito para assistirmos agora, mas teríamos que ter um bom vinho para nos acompanhar. </div><div style="text-align: justify;">- Um vinho?</div><div style="text-align: justify;">- Sim, é que a trama se passa nos vinhedos da Califórnia. São dois caras, um que vai casar em uma semana e outro que se divorciou há um tempo só que ainda não superou o trauma. Aí os dois resolvem fazer uma viagem para esses vinhedos, e entre romances e degustações de vinhos muita coisa acontece. Só que esse filme tem tantos significados sabe, cada vez que assisto me dou conta de uma coisa nova. </div><div style="text-align: justify;">- Nossa, do jeito que tu fala parece imperdível! Será o primeiro filme que verei quando sairmos daqui.</div><div style="text-align: justify;">- E “Alta Fidelidade”, tu já viu?</div><div style="text-align: justify;">- Ah, eu adoro os livros do Nick Hornby, mas não gosto muito das adaptações para a tela.</div><div style="text-align: justify;">- Ah, “Um Grande Garoto” ficou bizarro, aquele final totalmente diferente do livro acabou com o filme. Mas eu gosto do “Alta Fidelidade”, ficou mais fiel. Eu já li o livro quatro vezes e o filme devo ter visto umas doze vezes, no mínimo.</div><div style="text-align: justify;">- Nossa!!! Eu gosto de “Alta Fidelidade”, mas só li e vi o filme uma vez.</div><div style="text-align: justify;">- Esse livro sempre foi a minha bíblia de relacionamentos. Quando precisava pensar no que fazer, em como as coisas andam, sempre recorri a ele.</div><div style="text-align: justify;">- Uau! Nunca parei para pensar nesse livro desta maneira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As horas corriam pela madrugada, e o papo cada vez mais agradável me fazia esquecer que estava trancado em uma sala de cinema. Naquele momento, o que importava era ela, com aquele olhar de quem realmente estava interessada no que eu tinha a dizer. Esse era um daqueles momentos mágicos, quando se conhece alguém e se escuta um “clic” imaginário, que no fundo nos diz que as coisas estão se encaixando e dando certo. Entusiasmada, ela continuou a conversa:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Melhor trilogia de todos os tempos?</div><div style="text-align: justify;">- Ah, com toda certeza a primeira do “Guerra nas Estrelas”!</div><div style="text-align: justify;">- Ah, tu vai querer me matar, mas eu sempre gostei mais de “Jornada nas Estrelas”.</div><div style="text-align: justify;">- Bah, estou preso em uma sala de cinema com uma “trekkie”, quem diria!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ela gargalhou durante uns 20 segundos, nem eu acreditei que uma piada totalmente nerd tinha funcionado com uma garota.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Mas a minha trilogia preferida de todos os tempos com certeza é “O Poderoso Chefão”.</div><div style="text-align: justify;">- Opa! Don Corleone é um dos meus personagens favoritos no cinema! O Marlon Brandon é o cara!</div><div style="text-align: justify;">- Mas sabe de uma coisa, eu sei que pode soar estranho, mas eu prefiro a segunda parte da trilogia!</div><div style="text-align: justify;">- Sério?</div><div style="text-align: justify;">- Sim!</div><div style="text-align: justify;">- Nossa, não é sempre que escuto essa opinião. Pensei que fosse unânime que o grande filme fosse o primeiro!</div><div style="text-align: justify;">- Pois é, sou meio estranha às vezes! </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ela se chamou de estranha, mas para mim ela era como eu. Claro que não tinha as mesmas opiniões em tudo, mas sabíamos compartilhar o momento e dividíamos uma visão parecida da importância de um filme na vida de uma pessoa. No final, quando o cansaço cedeu para o sono, dormimos abraçados. Nada aconteceu naquela noite, apenas a promessa de que no futuro nem todas as sessões de cinema seriam solitárias.</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-73949829013949744022010-05-24T18:19:00.007-03:002010-05-27T20:44:22.875-03:00O Jantar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ2WiUt2rhqU1Y5V_NijQYOx68KgXwJVtguZ5IRZqUBy2AFxz5jeRMH4J8tjja0SUluTOyDGzNwoyyH6RNfL200de-SvlHTiO_hkSTgSa-Q4v1VMAJtD-krND3hJ3tMRbhBoag/s1600/ojantar2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" gu="true" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ2WiUt2rhqU1Y5V_NijQYOx68KgXwJVtguZ5IRZqUBy2AFxz5jeRMH4J8tjja0SUluTOyDGzNwoyyH6RNfL200de-SvlHTiO_hkSTgSa-Q4v1VMAJtD-krND3hJ3tMRbhBoag/s400/ojantar2.jpg" width="373" /></a></div><br />
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<strong>Prefácio:</strong> Este conto nasceu após o meu amigo carioca Robson Silva, um gourmet de primeira, me mandar um e-mail com uma temática similar ao do conto. Algumas partes foram usadas integralmente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">A maior insanidade da minha vida foi ter entrado em uma cozinha e me apaixonado pela arte de cozinhar. Tamanho amor começou quando eu ainda era criança. Minha avó era uma exímia doceira, fazia a melhor rapadura de amendoim que eu já comi na vida. Já minha mãe conseguia fazer um banquete com qualquer coisa que encontrasse na despensa. A paixão pela cozinha veio de família. Quando vim morar sozinho comecei a me aperfeiçoar em uma espécie de curso autônomo à distância, assistindo a diversos programas de culinária da TV a cabo: Jamie Oliver, Gordon Ramsay, G. Garvin...devo ter visto zilhões de receitas de todos esses caras, menos daquele francês insuportável do GNT, eu sempre tive uma vontade incontrolável de quebrar a televisão quando escutava aquele sotaque insuportável. Cozinhar é uma atividade que envolve técnica, trabalho pesado, equipamentos e os livros de receitas corretos. Essas técnicas são mais ou menos as mesmas que eu uso em uma conquista, a diferença é que mesmo usando os ingredientes adequados o sucesso não é garantido. Se me perguntassem, “qual a sua receita para conquistar uma mulher?”, eu responderia: “um jantar”, sou daqueles que fisgam as mulheres pelo estômago. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Apesar de gostar muito de cozinhar, não fiz disto uma profissão, apenas uma prazerosa atividade paralela. Enquanto não estou me divertindo em meio às panelas eu fico enfurnado em uma sala rodeado por processos. Eu trabalho no mesmo escritório de advocacia há dez anos. Comecei lá como estagiário, me formei, fui efetivado logo em seguida e como já estava acostumado com tudo aquilo fui ficando, ficando, e aqui ainda estou. Há duas semanas a rotina do escritório sofreu uma drástica alteração. O nome da alteração? Claudinha, uma morena, lindíssima, de cabelos lisos que percorriam um sinuoso caminho até os ombros. Ela era baixinha, mas sabia usar isso a seu favor, o que destacava ainda mais o seu charme. A Claudinha era mineira, ou seja, tinha aquele charme especial, timidez oriental e safadeza cabocla. Ela era perita na arte da sedução, já que o sotaque das mineiras é uma ode ao encanto. Não importa o que elas digam, pode ser um direto “eu te amo”, uma leitura bíblica, ou podem estar falando grego, mesmo assim, aos ouvidos do homem que estiver escutando, aquele sotaque mineirinho sempre soará como sedução. E foi assim durante duas semanas. Sinceramente não prestava muita atenção no que ela dizia, mas estava enlouquecido por aquela mulher. Na última sexta-feira tomei coragem e a convidei para um jantar na minha casa, afinal, passara a semana inteira fazendo propaganda dos meus dotes culinários. Convite feito, convite aceito!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que cozinhar para impressioná-la? Resolvi trilhar um caminho seguro e preparar um prato em que sou mestre. Vejamos:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Frango à Provence:</strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Empanar os pedaços de frango, dourar em azeite. Reservar o frango, derreter a manteiga no azeite do frango, juntar a cebola e o alho, colocar 5 anéis de pimenta dedo de moça, incluir o frango, limão siciliano, salsa e 2 colheres de molho de tomate. Saltear e empratar. Seguir na frigideira e aquecer mais azeite e fritar um punhado de arroz selvagem, cobrir em seguida e servir.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Algumas horas antes do combinado eu já estava nervoso, preparando o apartamento nos mínimos detalhes para receber a Claudinha. Selecionei alguns discos para um clima romântico e aconchegante, misturei cantoras clássicas como Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Dinah Washington com algumas mais modernas, como Diana Krall, Elizabeth Sheppard e Melody Gardot. A trilha sonora estava resolvida. Para acompanhar o meu Frango à Provence comprei um caríssimo vinho chileno, tudo para impressioná-la. Arrumei a mesa delicadamente, organizando os copos, pratos e talheres, deixei tudo brilhando, já que mulher enxerga até pentelho de mosca no escuro. Enquanto eu estava na cozinha, picando a cebola, escutei a campainha. Droga, ela havia chegado 30 minutos antes do previsto. Rapidamente sequei as lágrimas em uma toalha, abri a porta e vi o olhar de espanto da Claudinha. Antes que ela perguntasse avisei-a que as lágrimas eram por causa da cebola. Educadamente guardei a bolsa dela e a acomodei na sala, onde “Down My Avenue”, da Melody Gardot, tocava em um volume agradável. Ela me olhou com uma cara assustada, e disse que eu escutava coisas estranhas. Mas o que ela queria que estivesse tocando, “Mineirinho” do Só Pra Contrariar? Enfim, voltei para a cozinha com o intuito de terminar meus afazeres culinários. Quando retornei com a entrada – resolvi fazer uma polentinha com cogumelo e azeite trufado – encontrei a dita cuja ao telefone, falando abobrinhas com uma amiga. Neste caso, nem o sotaque mineiro foi suficiente para disfarçar a quantidade de bobagens que as duas diziam. Se eu soubesse disso teria feito igual aos cinemas, e teria posto um aviso de “desligue o seu pager ou celular antes do jantar”. Coloquei os pratos na mesa e esperei alguns minutos para começar a degustar a entrada, já que teria sido uma tremenda falta de educação iniciar sem ela. A polenta começou a esfriar e perder o brilho, o cogumelo que estava al dente começou a endurecer, e a salsinha sumiu em vez de dar o acabamento. Quando ela finalmente desligou o telefone pediu alguns minutos para ir ao banheiro retocar a maquiagem. Aproveitei esse tempo para finalizar o molho do Frango à Provence. Quando voltei, ela estava beliscando uma polenta. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- O que achou Claudinha?</div><div style="text-align: justify;">- Menino, tá bom, mas tinha que estar mais quentinho.</div><div style="text-align: justify;">- Ok, me deixa buscar um maçarico industrial (Essa frase foi só no pensamento, se dissesse isso passaria por grosso).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Voltei à cozinha para finalizar o frango e pegar o vinho chileno. A Claudinha me esperava com um sorriso no rosto. Servi uma porção generosa da minha especialidade e ela disse:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Mais comida? Eu não quero engordar hein, coloca só um pouquinho viu!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nada me irritava mais do que frescura na hora de comer. Ela não queria um prato cheio, mas cheio mesmo já estava o meu saco. Será que eu havia errado tanto assim? Seria possível aquele sotaque charmoso mascarar uma mulher insuportável? Perdido em meio aos meus pensamentos sentia como se tivesse encontrado uma sereia que durante duas semanas foi me encantando, mas que quando finalmente chegou perto se transformou em uma medusa, e eu estava ali, petrificado, sem saber o que fazer. Servi mais um pouco de vinho, enchendo metade da taça. Para piorar a situação só se ela quisesse o vinho em um copo de molho de tomate, mas graças a Deus não chegou a tanto. A verdade era que eu estava perdido. Uma linda mulher estava à minha frente, porém eu não conseguia trocar uma palavra sequer com ela. O que fazer? Para minha sorte o telefone tocou de novo, era a tal amiga. Fui para a cozinha esfriar a cabeça um pouco, na volta a Claudinha me disse que a amiga dela estava nos convidando para uma rave. Encarei o convite cilada como uma oportunidade para me livrar desta noite desastrosa. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Claudinha, eu tenho que acordar cedo amanhã, tenho futebol com os amigos marcado há um tempão já. Mas não estraga tua noite por mim, vai lá na festa com a tua amiga, a gente marca alguma coisa outra hora.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para minha sorte ela aceitou meu “conselho” e resolveu ir à festa. Sempre fui um cara de ligar para as mulheres no dia seguinte, mas neste caso, certamente teria que abrir uma exceção. Minutos depois da ligação eu estava me despedindo da Claudinha, com apenas um beijo no rosto e um alívio no coração. Na segunda-feira cheguei cedo ao escritório, como de costume. Avistei a Claudinha de longe e acenei timidamente. Rapidamente percorri o corredor que dava acesso a minha sala. Naquele dia, uma pilha de processos parecia mais atraente que uma linda morena mineira.</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-23282036919291711432010-05-07T22:56:00.005-03:002010-05-17T13:26:24.794-03:00A Lavanderia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRzgV-YzstJw-FGugNJ-g-RJ5SUZ21dFM8Oams0HFq9hJOkz9d3sxDUBrverIeJioKRqaQr7siikkYBYyj6hGbieL3jQlaNat2vrzJt6yQxID4eDZY30ksFZBM1kyvngxv08o6/s1600/lavanderia+blog+.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="302" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRzgV-YzstJw-FGugNJ-g-RJ5SUZ21dFM8Oams0HFq9hJOkz9d3sxDUBrverIeJioKRqaQr7siikkYBYyj6hGbieL3jQlaNat2vrzJt6yQxID4eDZY30ksFZBM1kyvngxv08o6/s400/lavanderia+blog+.jpg" tt="true" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Eu sempre imaginei que fosse conhecer a mulher da minha vida em uma livraria. Eu puxaria assunto sobre algum livro de mútuo interesse, ou então comentaria sobre a música que tocava ao fundo e tudo estaria formado. Pensava que poderia eventualmente encontrar uma bela mulher, abandonada ao acaso, em um charmoso Café do centro. Eu tomaria coragem e começaria um papo do nada, e no fim viveríamos felizes para sempre. Cheguei ao cúmulo de pensar que meus olhos encontrariam o olhar de uma futura namorada em uma fila de banco, e depois de alguma piada idiota sobre contas a pagar e dinheiro curto no fim mês combinaríamos a primeira de muitas saídas. Mas não, a mulher pela qual eu me apaixonei instantaneamente estava naquela lavanderia, simples, um pouco suja e desleixada, mas com um clima acolhedor.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">Duas quadras separavam meu apartamento daquela lavanderia. O estabelecimento pertencia a um simpático casal chinês, que já estava no Brasil há mais de 30 anos. Eu frequento o lugar desde minha mudança para o centro, há mais ou menos oito anos. Sendo assim, eu me considero íntimo da maioria dos clientes, mesmo não tendo trocado mais do que duas ou três palavras com grande parte deles. Quando uma pessoa nova começava a frequentar o lugar de cara me chamava a atenção. Foi assim que aconteceu naquele princípio de noite, com tempo ruim, chuviscando. Quando ela abriu a porta e entrou na lavanderia, não houve par de olhos imune aquele corpo. Era aquele tipo de mulher que fala com o olhar e hipnotiza com o sorriso. Impossível não se apaixonar. Tomado pela minha timidez, apenas observei de longe o seu andar confiante, como se conhecesse cada canto do local há décadas. A lavanderia dos chineses possuía seis máquinas, eu estava na de número quatro, e para minha sorte, a única disponível era a última, apenas a poucos metros de distância. Meu amor platônico, com o olhar decidido e sem desviar do trajeto por um milímetro sequer, rumou para lá. O cesto de roupas que carregava me chamou a atenção. Ele não estava totalmente cheio, e as roupas estavam todas bagunçadas e emaranhadas umas nas outras. Meu excesso de timidez impediu uma tentativa de conversa, mas essa não era a única maneira de descobrir alguma coisa sobre ela. Já ouvi muito aquela frase, típica de propagandas de remédios para emagrecer, “você é o que você come”. Pois então, acho que devido à situação, a frase poderia muito bem ser adaptada para “você é o que você veste”. Resolvi tentar. A primeira peça de roupa que ela tirou foi uma saia de bolinhas, charmosíssima, que me deixou imaginando como aquelas pernas se destacariam no meio daquele mar de bolinhas. Ainda estava sonhando acordado com aquela cena quando a vi colocando na máquina uma calça de couro preta, aparentemente apertada, parecia que vinha direto de um clipe do Judas Priest. Achei estranho, o clima de amor platônico deu uma esfriada, e meu tempo também estava escasso. Enquanto me dirigia para a porta de saída dei uma rápida olhada no cesto, e para minha felicidade não avistei nenhuma roupa masculina. Havia fortes indícios de que ela era solteira. </div><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">Uma semana se passou, e uma pilha de roupas sujas já havia se formado no canto do meu apartamento. A lavanderia do casal chinês novamente seria o meu destino. Enquanto percorria o trajeto de duas quadras, só conseguia pensar naquela mulher, de gosto aparentemente antagônico para roupas. Ao adentrar o recinto avistei-a de longe, destacando-se no meio da multidão de aposentados e solteirões trintões que estavam na lavanderia. Sua cesta estava quase vazia, minha pesquisa nada ortodoxa sobre quem ela é teria que ser feita com base nas últimas roupas que ela preparava para lavar. Um vestido balonê foi a primeira peça que eu consegui avistar. Sinceramente, eu só sabia que esse vestido tinha esse nome específico porque uma amiga, estudante de moda, passou um dia inteiro falando sobre a tendência desses vestidos para o verão. Graças a isso eu descobri que ela andava na moda, já que o verão acabara de começar. Em seguida ela colocou um daqueles casacos Adidas, típicos de quem gosta de correr. Pelo visto eu poderia estar diante de uma futura companheira de corridas no parque. Enquanto gastava meu tempo imaginando nossas mãos entrelaçadas, as pernas correndo em um ritmo cadenciado, com os pássaros cantando ao fundo e todo parque à frente, vi mais uma peça de roupa sair do cesto: um casaco com lantejoulas, bem anos 80. Se não me falha a memória devo ter visto coisa parecida em algum clipe da Madonna ou Cindy Lauper. Desviei o olhar por um instante, e imaginei uma cena bizarra dela dançando “Like a Virgin” em uma boate GLS. Ao repará-la novamente, vi que segurava uma última roupa nas mãos, e que roupa: uma calça vermelha, gritante, parecia um rio de sangue. Não me recordo de ter visto tanto vermelho assim desde a última vez que assisti “O Amanhecer dos Mortos”, do George Romero, na TV em uma madrugada de insônia qualquer. Enquanto eu me posicionava para começar a lavagem das minhas roupas ela foi para um canto ler o jornal. As roupas dela ficaram prontas antes das minhas, e novamente, sem tomar um impulso de coragem, a vi deixar a lavanderia com aquele ar sedutor que ela imprimia ao andar. </div><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">Uma semana se passou, e sinceramente eu nem tinha roupas sujas o suficiente para fazer valer uma viagem à lavanderia. Porém, se o cronograma das duas últimas semanas se mantivesse, eu a encontraria lá, e dessa vez tudo teria que ser diferente, estava na hora de tomar uma iniciativa. Ela era apenas uma mulher, linda, atraente, de certa forma intimidadora, mas apenas uma mulher. Era hoje o dia. Nunca caminhei tão rápido aquelas duas quadras, tamanha era a ansiedade que habitava meu coração e mente. Quando estava quase chegando lá a avistei de longe, eu estava atrasado, ela já estava saindo com seu cesto de roupas devidamente lavadas. Não seria uma simples mudança de planos que me faria desistir da ideia de finalmente conhecê-la. Dessa vez não passa, pensei, vou segui-la. Mantendo uma distância segura – eu me certificava a cada segundo que meus passos não entregassem minha intenção – a segui por centenas de metros. Na terceira quadra ela virou na esquina, e quando eu repeti a ação, vi algo que meus olhos custavam a acreditar: meu amor platônico, a dona daquelas belas pernas, de mãos dadas....com outra...sim...com outra. Era uma mulher mais alta, com um porte físico maior que o meu, vestindo uma calça laranja e um casaco de couro. Agora tudo fazia sentido, aqueles antagonismos, aquela sensação estranha de não entender como uma mulher se tornava tão diferente em meus pensamentos a cada minuto. As duas deram um leve beijo na boca e seguiram caminho. Mediante a situação, interrompi a minha perseguição e voltei para casa, ainda com um certo aperto no coração. Nessa hora, só conseguia me lembrar da Elza Soares cantando “Boato”: “Você foi a mentira que deixou saudade”. E que saudades!</div>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-24712177128692152202010-05-01T20:12:00.002-03:002010-05-01T20:14:34.538-03:00A volta dos Contos de Fleming<div style="text-align: justify;"><br />
Escrever contos parece algo natural de se fazer depois de algum tempo e alguns contos publicados. Porém, para escrever um conto é necessário um estado de espírito que é difícil de explicar. Por quase três anos esse chamado "estado" não voltava a mim, mas faz alguns dias que essa vontade começou, quer dizer, recomeçou a brotar na minha mente. Sinceramente, lendo meus contos antigos sinto um mix de estranheza e timidez, parece que foi outra pessoa que escreveu aquilo, um "outro eu", ou como eu gosto de dizer, um alter-ego. Confesso que eu realmente gosto de uns dois ou três dos meus contos antigos, os outros nem tanto. Porém, mesmo não achando todos uma maravilha, eles acabam expressando um momento interessante e importante da minha vida, por isso, não deletarei nenhum, e os manterei com a escrita atual, mesmo muitas vezes apresentando um ar tosco. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nem todos os contos ficaram restritos ao blog, um dos meus preferidos, "<strong>Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção</strong>", virou curta-metragem, o qual eu dirigi em uma cadeira da PUCRS:</div><br />
<object height="385" width="480"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/ij5sFbxGd2g&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/ij5sFbxGd2g&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-1167773518278071922007-01-02T19:30:00.009-02:002010-05-07T23:49:23.974-03:00"Como Dois e Dois São Cinco"<ol><li><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/2868/2987/1600/109336/comodoisedois.jpg" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" height="320" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/2868/2987/320/504612/comodoisedois.jpg" style="float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" width="320" /></a></li>
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Por Rafael Pesce<br />
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<div style="text-align: justify;">Tente definir o amor. Conseguiu? Provavelmente uma infinidade de clichês e frases prontas vieram à sua mente. Mas invariavelmente, todas as respostas convergem para um único ponto: o amor é irracional. Ele não tem lógica, e quem sabe é por isso que recorremos a frases prontas para tentar explicá-lo, já que é muito mais fácil do que gastarmos horas e horas a fio tentando encontrar uma solução que nos satisfaça.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Conformar-se com a situação descrita acima é o que pessoas normais deveriam fazer, mas a questão é que a normalidade me abandonou há muito tempo atrás. A loucura e a insanidade tomaram o seu lugar, ainda mais depois que passei a cursar Matemática na faculdade. A minha tentativa de mudar tudo começou em uma noite de insônia, mais ou menos dois meses atrás...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dor nas pernas, inquietação, calor, um verão insuportável. Doce ilusão daquelas pessoas que acham que só porque eu moro no sul eu vivo em um lugar onde o frio é constante por 12 meses. O verão daqui é infernal, e o que parece aos olhos dos outros ser um pedaço da Europa no Brasil transforma-se em um forno, cujo botão de desligar está estragado, pelo menos até o outono chegar. A questão é que a falta de sono tem uma conseqüência inevitável: tempo de sobra para pensar. Não posso negar que é até uma coisa boa, mas as penitências no outro dia são terríveis: dor no corpo, indisposição e consumo exagerado de cafeína. Durante uma noite produtiva de insônia, pensando nos caminhos tortos da paixão, tive a brilhante idéia de tentar transformar o amor em uma ciência exata e racional. Afinal, estava cursando Matemática, para alguma coisa isso deveria servir. Estamos no século 21, com toda a tecnologia que nos cerca já deveriam ter arrumado algum jeito de decifrar o DNA do amor. Eu estava solteiro havia mais ou menos uns 7 meses, e meu último relacionamento havia sido um pouco traumático. Para variar, a minha ex me culpava pelo fim do relacionamento, porque segundo ela eu era ciumento demais e não a deixava respirar. Tudo bem, eu entendi o recado e conduzi a bola para frente. O problema é que não cheguei a gol algum, e agora estou aqui deitado na cama, ainda pensando numa solução lógica para entender o amor. Bom, para começar, nada melhor do que pegar uma folha em branco. Aquela infinidade de espaço, apenas esperando para ser preenchido com traços, cores e letras, que podem conduzir à uma genialidade ou apenas mais uma inutilidade besta. Acho que um bom começo é fazer uma retrospectiva, afinal, “clichemente” falando, é com o passado que aprendemos nossos erros. No papel em branco, desenhei uma tabela, e em seguida anotei o nome das 3 namoradas que tive ao longo dos meus 23 anos, uns 5 affairs duradouros que me marcaram, e mais o nome de 12 mulheres que estavam na categoria de affair passageiro. No total, 20 nomes, alfabeticamente ordenados em uma coluna no lado esquerdo da folha. Do lado direito, uma outra categoria com o nome de “erros cometidos”. Anotei todas as falhas que protagonizei durante praticamente toda a minha vida amorosa, tudo isso na tentativa de fazer a equação perfeita, que proporcionasse elevar minhas habilidades a um nível de par perfeito. Estavam lá desde “entregar flores, não só no começo do relacionamento, mas periodicamente”, passando por “ser compreensivo e agüentar os esculachos no período de TPM”, até “jamais revelar suas fantasias sexuais que envolvam mais de uma mulher”. Confesso que uma folha foi pouco, e depois de encher três páginas com anotações, me senti mais confiante para encarar qualquer encontro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não foi preciso esperar muito para por a minha teoria em prática. Havia mais ou menos uma semana que a Luciana, minha colega de faculdade, me olhava com um olhar “maldoso”, apenas à espera de um convite. E ele veio, na forma de um sutil pedido de “gostaria de sair comigo?”</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Na mesma noite, eu e a Lu nos dirigimos até o Café Vermont, um simpático lugar para um encontro. De acordo com minhas anotações, este tipo de local era um dos preferidos das mulheres. Era pequeno e aconchegante, charmoso, quieto, discreto e com opções de iguarias não calóricas para o corpo feminino. De acordo com as regras, eu deveria evitar churrascarias, botecos, pizzarias e afins, e foi isso que eu fiz indo ao Vermont. Seguindo a cartilha coerentemente, escolhi uma mesa bem localizada, e enquanto puxava a cadeira para a Lu sentar, disse o quanto ela estava bonita, e a deixei falar bastante, evitando o egocentrismo que às vezes me assola.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- E tu sabe, eu nunca gostei mesmo daquela aula, o professor sempre me pareceu meio patético. Mas também pode ser um pouco de birra minha sabe, aquela coisa de que “não gosto dele por que ele me deu bomba na prova” e blá blá blá...</div><div style="text-align: justify;">- Aham!</div><div style="text-align: justify;">- E tu sabe, também teve aquela vez...blá blá blá</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Depois de um bom tempo agüentando o papo furado dela, resolvi tentar me impor aos poucos, e ir incrementando alguns assuntos um pouco mais abalizados.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Poxa, e o Saddam foi enforcado né? Agora só falta o Bush.</div><div style="text-align: justify;">- Pois é, eu vi no You Tube. Mas sabe, ontem eu fui no shopping e vi um vestido lindo, mas meu cartão ficou em casa...blá blá blá</div><div style="text-align: justify;">- Aham, falando em compras, as vendas nesse ano aumentaram 25% em relação ao natal passado né.</div><div style="text-align: justify;">- Deve ser, tava tudo cheio, mas então depois de ver o vestido eu resolvi procurar um sapato que combinasse com os brincos que eu tinha comprado na semana passada...blá blá blá</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Egocentrismo é uma coisa, mas o papo dela já estava virando palhaçada. Cansado da conversa, e vendo que meu livro de regras não se aplicava ao exemplar feminino que estava postado em minha frente, resolvi perder as estribeiras e ir ao banheiro. Pelo menos era o que o meu par pensava. O toalete ficava a esquerda, mas eu tomei o caminho da direita, aquele que dava direto para a rua, e consequentemente minha liberdade. Antes de me você me chamar de algum nome de baixo calão, reitero que deixei o dinheiro da conta com o garçom, logo a Lu não teve que desembolsar nada pela noite “inesquecível”. Voltei para casa caminhando calmamente, com o olhar levemente inclinado para cima, de uma maneira que eu pudesse apreciar o céu estrelado ao mesmo tempo em que desviava dos postes que importunavam o meu caminho. Depois deste encontro, cheguei à conclusão de que o Caetano Veloso tinha razão, 2 + 2 são 5. O amor não é uma ciência exata, é um sentimento torto, que não nos apresenta um caminho ao qual seguir. Por isso, o melhor que tenho a fazer agora é abandonar a planilha e a calculadora e seguir a minha vida, quem sabe em alguma curva eu encontre o meu denominador comum.</div>Unknownnoreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-1162590976409190132006-11-03T18:54:00.004-03:002010-06-30T13:45:03.300-03:00"A pizza, o alter ego e o fundo do poço!"<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/1600/alter%20ego.jpg" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" height="320" src="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/320/alter%20ego.jpg" style="float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" width="288" /></a><br />
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por Rafael Pesce<br />
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A cidade corria em ritmo acelerado. As luzes, cores e sons misturavam-se em um mosaico, onde apenas a figura da minha pessoa, solitariamente caminhando, aparecia deslocada no meio deste mundo surreal. Realmente eu precisava sair de casa, tentar relaxar um pouco e me animar para viver o resto da vida. Ela fora afetada diretamente pelo ato que eu acabara de cometer. Uma morte não é assim tão fácil de assimilar, não sei se chegamos a nos recuperar completamente de uma “tragédia” como essa, ainda mais quando o culpado é a gente mesmo. No meu caso, posso pagar uma dura pena, pois cometi um assassinato, sem dó nem piedade, a sangue frio. Nesta noite meus amigos, assassinei brutalmente meu alter ego.</div><div align="justify">Poucos momentos após o crime, meu caminho estava traçado. Tudo que eu precisava era encontrar um lugar onde o pecado da gula suprisse a culpa que eu sentia pelo descumprimento do quinto mandamento, aquele que diz “não matarás”. Eu caminhava a passos lentos pela avenida lotada de pessoas, até finalmente chegar a um restaurante onde eu sabia que iria encontrar uma comida quente e deliciosa, juntamente com um bom atendimento. Lá eu poderia me isolar do mundo um pouco. Entrei no estabelecimento e me dirigi cegamente para uma mesa escondida no canto. O ar condicionado estava forte, e eu não tinha trazido o meu casaco, mas tudo bem, o frio é suportável quando não estamos dando a mínima para ele. Acendi o meu cigarro, mas o garçom prontamente apontou para uma placa com os dizeres de “Proibido Fumar”. Apaguei-o imediatamente, e franzi a testa ao constatar que este era o meu último. Peguei o cardápio e fui em busca de alguma iguaria bem gordurosa, capaz de me satisfazer em poucos instantes. Resolvi apelar para a pizza, e a fase de dúvidas e complicações pela qual eu estava passando se refletiu na minha escolha: uma pizza inteira, metade calabresa, metade chocolate branco; o salgado e o doce. Juntos eles logo habitariam o meu estômago. Confesso que um dos motivos que me levaram a escolher esta mesa bem isolada, foi o jogo de futebol que estava passando na televisão ali perto. Estranhamente, era um Cruzeiro e Atlético Mineiro, em plena terça-feira. Fiquei desconfiado, não era dia de campeonato brasileiro, e o galo jogava a segundona neste ano. Foi aí que percebi os patrocínios das camisetas: eram de marcas que eu nem sabia se existiam ainda. Moral da história: o jogo era de 10 anos atrás, a final do campeonato mineiro de 1996. Já se passavam 30 minutos, não da partida, que já estava no segundo tempo, mas sim do meu pedido, que já demostrava sinais de que iria atrasar. Eu estava faminto, e ficar esperando para comer nesta situação era o que de pior poderia me acontecer. Foi neste momento que olhei para fora e percebi que chovia. A palavra pegadinha começou a fazer cada vez mais sentido para mim. Droga, eu havia esquecido meu guarda chuva em casa. Pelo menos a minha cerveja veio gelada, nem tudo estava perdido.</div><div align="justify">Que sensações temos ao matar nosso alter ego? Difícil decidir, mas meu top 5 seria:<br />
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1) Sensação de ser você mesmo de novo.<br />
2) Tristeza pela “morte” da pessoa tão próxima.<br />
3) Leveza. Simplesmente isso.<br />
4) Confusão. Será que realmente fiz a coisa certa?<br />
5) Dúvida. Ter um alter ego era uma coisa idiota? Ou eu era um idiota por ter um alter ego?<br />
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Merda, pensando bem, acho que fui um incompetente. Resquícios do meu alter ego ainda insistiam em habitar o meu corpo. É complicado se livrar completamente de algo que fez parte da gente durante um longo período. Começo a perceber isso cada vez mais fortemente, mas eu não podia voltar atrás, o crime já havia acontecido. A recaída que eu acabara de ter só pode ter sido coincidência, ou força do hábito mesmo. A verdade é que o vazio que meu alter ego deixou tinha que ser preenchido de alguma maneira. Mas com a morte dele, acho que finalmente eu estava pronto para me relacionar seriamente com uma mulher. Afinal, a culpa por ele ter aparecido pertencia a uma fiel representante do sexo feminino. Naquele momento, apenas o calor de um corpo feminino, as carícias de uma mão suavemente me massageando e o sorriso de uma querida acordando diariamente ao meu lado pareciam ser coisas sensatas as quais buscar. Dizem que é preciso chegar ao fundo do poço para nos reerguermos e começarmos a reconstruir nossas vidas. Pois bem, a morte do meu alter ego, aliado a demora de uma hora até minha pizza chegar à mesa, haviam me levado até este ponto. Finalmente eu me sentia pronto para subir e voltar para um lugar o qual nunca deveria ter abandonado. Agora meus amigos, o céu é pouco para mim, ele com certeza não será o meu limite.<br />
<br />
PS: as referências sobre quem é o alter ego se encontram “perdidas” pelo conto, achei melhor não expô-lo escancaradamente, afinal, ele está morto.</div>Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-1161809952296607802006-10-25T17:54:00.002-03:002010-05-07T23:53:26.133-03:00"Samba das Saias de Verão"<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/1600/conto%20saia.jpg"><img alt="" border="0" src="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/320/conto%20saia.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a><br />
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Por Rafael Pesce<br />
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<em>“ Você viu só que amor</em><br />
<em>Nunca vi coisa assim </em><br />
<em>E passou, nem parou / Mas olhou só pra mim </em><br />
<em>Se voltar vou atrás / Vou pedir, vou falar </em><br />
<em>Vou contar que o amor / Foi feitinho pra dar</em><br />
<em>Olha, é como o verão</em><br />
<em>Quente o coração / Salta de repente</em><br />
<em>Para ver a menina que vem</em><br />
<em>Ela vem sempre tem</em><br />
<em>Esse mar no olhar</em><br />
<em>E vai ver, tem que ser / Nunca tem quem amar</em><br />
<em>Hoje sim diz que sim / Já cansei de esperar</em><br />
<em>Nem parei nem dormi / Só pensando em me dar </em><br />
<em>Peço, mas você não vem</em><br />
<em>Bem / Deixo então </em><br />
<em>Falo só / Digo ao céu</em><br />
<em>Mas você vem “</em><br />
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<div align="justify">“Samba de Verão”, de Marcos Valle, não poderia ser mais perfeita para embalar os longos passos que me encaminhavam à Rua da Praia. Porto Alegre é mais ou menos assim: uma semana é um frio de rachar, onde ternos, blusões, cachecóis e casacos desfilam saudavelmente em um mar de peles e tecidos. Na semana seguinte, tudo pode mudar, e o tradicional calor infernal que assola o sul pode chegar repentinamente, transformando a vida de todos em um forno. Hoje está um dia assim. Na verdade, é o primeiro depois de uma longa temporada com uma extensa friaca. Mas se o verão tem uma coisa boa, é definitivamente a saia. Sim, a saia mesmo, com seus diversos modelos, vestindo com perfeição uma infinidade de corpos femininos, todos em busca do conforto e beleza que só uma linda saia pode proporcionar. O melhor do verão é isso, é poder olhar para todos os lados e notar que de repente as mulheres estão mais bonitas, alegres, sorridentes e atraentes. Para mim, boa parte disso é “culpa” da saia mesmo. Sem ter que se preocupar com o desconforto e aperto de uma calça, as mulheres passam a flutuar em vez de caminhar, e dependendo do modelo usado, a vestimenta acaba se tornando uma afronta e forte provocação à tentação masculina. O difícil é não se apaixonar inúmeras vezes em um mesmo dia. Não é canalhice, nem nada parecido, é apenas o amor platônico elevado a sua enésima potência.<br />
<br />
Bem, mas voltando à Rua da Praia...<br />
<br />
Andava eu sozinho pela Rua da Praia, sorriso estampado no rosto, Marcos Valle no ouvido e os olhos bem abertos, apenas apreciando o embalar das pernas femininas que me encantavam a cada esquina. Em um universo concorrido, onde centenas de saias perambulam em todo lugar, é difícil conseguir um espaço de destaque, ofuscando as concorrentes e arrebatando a atenção do globo ocular dos homens. Mas o difícil não é tarefa impossível. Enquanto me recuperava da tontura dos movimentos contínuos que minha cabeça fazia (devido a árdua tarefa de observar saias), passou por mim uma daquelas raras mulheres, capazes de resumir o nosso universo em apenas um olhar. Pernas longas, envoltas por uma saia listrada (preto e branco), que terminava em uma altura um pouco acima do joelho, deixando aquele ar de mistério, que convivia pacificamente com o jeito sexy proporcionado apenas por uma peça de roupa como aquela. Percebi estes detalhes em uma questão de segundos, já que a moça passou rapidamente por mim, em um andar linear e decidido. Chamaria-a de blasé, se encantadora não fosse o primeiro adjetivo a aparecer na minha cabeça. Porém, discretamente ela olhou para trás, e o sorriso que eu vi já fez o meu dia valer a pena. O caminhar dela era apressado, e esforcei-me ao enfrentar a multidão e segui-lá pela Andradas (verdadeiro nome da Rua da Praia) tumultuada, onde as listras preto e branco da vestimenta confundiam-se com o chão de mesma cor da famosa rua. Incessantemente a persegui, e de longe avistei-a entrando no Santander Cultural. Ao chegar no local, deparei-me com uma placa fazendo a propaganda de um festival musical que aconteceria hoje, o “Poa em Bossa”. Já que meu dia começou com Marcos Valle, acabá-lo com bossa não seria uma má idéia. Apostei minhas fichas que subindo os degraus que davam acesso ao evento, eu poderia encontrá-la, e nao deu outra. Entrei no recinto embalado pelo som de “Tem Dó de Mim”, de Carlos Lyra, executado pelo trio que se apresentava no palco. Para todos os lados que eu olhava haviam saias, e meus olhos encontravam mais e mais olhares, todos em busca do mesmo objetivo provavelmente. Mas aquela saia e aquelas pernas eram únicas, e não demorei a perceber que a bela moça estava charmosamente sentada em uma mesa bem perto do palco. Ela estava sozinha, com as pernas cruzadas, o que aumentava ainda mais o encanto que a saia proporcionava. Eu estava em um dilema: poderia muito bem ir lá falar com ela e ver no que ia dar, ou então ficar onde estava para não arriscar um inusitado encontro com algum eventual namorado, marido ou affair que ela poderia estar a espera. Me lembrei de “Samba de Verão”, e coincidentemente a banda começou a tocá-lo. Ainda meio receoso, esperei um pouco, e no momento que o vocalista cantava a parte onde diz “e vai ver, tem que ser, nunca tem quem amar, hoje sim, diz que sim, já cansei de esperar”, tomei a coragem e influência necessária para ir ao encontro dela. Com a imponência e auto confiança necessária a qualquer conquistador que se preze, sentei-me ao lado daquelas pernas, e agora pude observar calmamente que a beleza da moça não se resumia apenas à isso. Dona de um sorriso monumental, uma pele angelical e um olhar penetrante, ouvi a sua voz suavemente cantarolar a bossa, ao mesmo tempo que me oferecia o whisky que segurava com a mão direita. Passamos o dia ouvindo bossas, conversando e bebendo...e quando “Felicidade”, de Tom Jobim e Vinicíus de Moraes, chegava ao refrão - “tristeza não tem fim, felicidade sim” - comecei a pensar se os momentos de alegria que eu estava passando iriam acabar. Resolvi não esquentar a cabeça, e depois de acompanhar a moça até a casa dela, e me despedir com um caloroso beijo, percebi que hoje fora um dia atípico. Apesar de ter passado um clássico dia de verão, onde havia presenciado um vasto mundo de pernas e saias por aí, eu me apaixononei apenas uma vez. Pensando bem, amanhã vai ser outro dia, 24 horas em que saias estarão por todos os lados novamente, e se a felicidade tem fim, é só porque um novo ciclo de alegria, ainda melhor, está para começar... </div>Unknownnoreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-1157223477236634282006-09-02T15:53:00.000-03:002007-12-12T16:15:06.272-02:00"Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção"<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/1600/peladao_02.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/320/peladao_02.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><p><br /></p><p></p><p></p><p></p><blockquote><p></p></blockquote><br /><br /><br /><br /><br /><blockquote></blockquote><blockquote></blockquote><blockquote></blockquote><p></p><p></p><p></p><blockquote></blockquote><p></p><p></p><blockquote></blockquote><p></p><p></p><p></p><p></p><blockquote></blockquote><p></p><p></p><p></p><p></p><blockquote></blockquote><p></p><p></p><p></p><p></p><blockquote></blockquote><div align="justify">Por Rafael Pesce<br /><br /><br /><em>Prefácio:</em> Algumas idéias e inspirações deste conto vieram da fabulosa música "Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção", de Erasmo Carlos.<br /><br /><br />Meus dias eram longos e entediantes. Faz mais de três anos que trabalhava na biblioteca central da cidade, catalogando livros e mais livros, dividindo-os por autor, editora, gênero e ano. Eu posso dizer que já estava acostumado com a monótona vida de um bibliotecário. Mas também não podia reclamar de tudo. Eu tinha tempo de sobra para ler o livro que eu quisesse, e a tranqüilidade do ambiente, aliada com algumas pílulas, ajudavam a acalmar minha hiperatividade. Porém, meu coração que outrora batia lentamente e a ritmos mansos, foi abalado por uma mulher de tamanha beleza, que faria qualquer pessoa do local trocar as páginas de um livro por um sorriso dela. Fiquei atônito com aquela presença, e resquícios da minha hiperatividade pareciam dar sinais de volta. Primeiramente eu pensei: “é só hoje, amanhã ela não estará aqui e tudo voltará ao normal”. Mas eu estava redondamente enganado. A moça dos meus sonhos começou a freqüentar a biblioteca diariamente, sempre com a mesma rotina. Ela chegava por volta das 13 horas e ia diretamente para a seção de literatura estrangeira. Pela posição que ficava a minha mesa, não era possível identificar que livros especificamente ela olhava todos os dias. Por volta das 17 horas, perto do horário de fechamento da biblioteca, ela selecionava alguns livros e se dirigia à mesa da Dona Vera, a funcionária responsável pela retirada das obras literárias. Todos os dias, ao fazer este trajeto, ela passava por mim, me obrigando a sentir o suave perfume que exalava do seu corpo. Ela não olhava para os lados, parecia extremamente concentrada, caminhando de um modo decidido. Esse certo desprezo acabava por despertar ainda mais minha paixão, e eu ficava pensando no que poderia fazer para conseguir pelo menos um minuto de atenção daquela mulher. Os dias passavam lentamente, e minha agonia apenas aumentava. Não ousaria sair do meu posto para ir importuná-la com um papo banal, até por que levaria uma bronca do meu chefe e provavelmente ganharia um olhar de ódio daqueles olhos concentrados na leitura. Resolvi tentar descobrir um jeito de chamar a atenção dela. Meu primeiro passo foi falar com a Dona Vera depois do expediente. Tentando disfarçar o meu entusiasmo, perguntei para a funcionária que livros que estavam sendo retirados pela nossa mais nova freqüentadora. Era difícil enganar a experiente senhora, e a primeira coisa que ela disse para mim foi um sonoro “você está apaixonado por ela, não?”. Não tive como me esquivar, e nem teria por quê. A antiga bibliotecária era dona de um bom coração, e meus desejos e segredos ficariam bem guardados com ela. Depois de uma rápida consulta no computador, obtive das mãos da bondosa senhora uma folha impressa com todos os livros retirados pela minha querida. Coincidentemente, todos eles se encaixavam na categoria suspense e mistério. A lista começava em Agatha Christie, passando por Sidney Sheldon e Edgard Wallace, e terminando com Stephen King. O que será que ela estava fazendo com todos estes livros de mistério? Poderia ser alguma atividade para a faculdade, ou quem sabe um trabalho de conclusão sobre livros de suspense, ou melhor ainda, ela poderia estar escrevendo um livro e precisando apenas de inspiração. Não dormi direito neste dia, tamanho as dúvidas e curiosidades que rondavam meus pensamentos. Ao levantar no dia seguinte, tive que apelar para o café (ele aumenta e muito minha hiperatividade) para me manter acordado durante o trabalho. No começo da tarde lá estava a minha bela novamente, desfilando seu charme e fazendo eu me sentir invisível. Estava difícil conter meus sentimentos, queria e muito fazer algo, e para me manter ocupado passei o resto do dia escrevendo versos e versos sobre ela. Acabei com o estoque de rascunho que havia em minha mesa, e depois de tudo isso, não achei minhas palavras merecedoras da beleza dela, e resolvi guardar as poesias para mim. Perto das cinco da tarde, a querida já se preparava para ir embora, e esforcei-me ao esboçar o meu melhor sorriso, mas novamente fiquei com a sensação de “sou obsoleto”. Porém, neste dia, notei que as rápidas palavras que normalmente ela e Dona Vera trocavam, demoraram um tempo maior que o usual. Ao final do expediente, não contive minha curiosidade e perguntei para a senhora sobre o que elas conversaram. Ela me respondeu dizendo: <em>“Amanhã será o último dia dela nesta biblioteca, pelo menos por um bom tempo</em>.” Olhei com uma cara de decepção, e a funcionária prosseguiu me explicando: “<em>se lembra das tuas suposições sobre o que ela estava fazendo aqui? Uma delas estava certa. Ela é uma escritora, e está escrevendo o seu primeiro livro. Mas ela está no meio de uma crise de falta de inspiração, por isso resolveu recorrer a autores renomados pra ver se recupera o dom perdido. Outra coisa, ela me disse que vem amanhã mesmo só porque quer retirar um último livro, o “por que não pediram a Evans”, da Agatha Christie"</em>. Neste dia, tive mais uma noite de sono tumultuada. Revirei-me a madrugada inteira pensando no que fazer para chamar a atenção daquela mulher. Quando acordei, finalmente havia pensado em uma solução. Ao chegar à biblioteca, a primeira coisa que fiz foi me dirigir à seção de literatura estrangeira. Procurei o livro que o meu amor platônico viria pegar, e ao abrir a primeira página, coloquei um bilhete com os seguintes dizeres: “vou ficar nu para chamar sua atenção”. Devolvi o livro à estante e retornei para minha mesa, apenas esperando a hora da chegada dela. À uma hora em ponto, sem um segundo de atraso, ela entrou na biblioteca e rumou cegamente em busca do livro que lhe faltava. Dois minutos depois, ela iniciou sua caminhada em direção à mesa de Dona Vera, mas no meio do trajeto, abriu a primeira página do livro e o bilhete que eu havia colocado caiu. Ao ajuntar o recado do chão e se deparar com a mensagem que lá estava, ela fez uma cara de muito espanto, e com um ar confuso amassou o papel e o colocou no bolso, já que não havia uma lixeira por perto. Missão cumprida. Na minha cabeça ela havia entendido o recado. Enquanto minha bela preenchia a ficha de retirada do livro, me levantei calmamente e comecei a me dirigir até onde ela estava. Tranquilamente fui me despindo, primeiro tirando os sapatos e chutando-os para um canto, depois livrando-me das calças (claro que tive que dar um rápida parada, senão levaria um belo tombo), e em seguida continuei o caminho desabotoando minha camisa. Em pouco tempo estava totalmente nu, e de longe já avistava a cara de “não estou acreditando” que Dona Vera fazia. Assim que a moça dos meus sonhos virou e me viu naquele estado, pronunciei as seguintes palavras: <em>“agora você sabe que eu existo!”.<br /><br /><br /><br /></div></em><em></em><em></em><em></em>Unknownnoreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-31146615.post-1156362125553307512006-08-23T16:37:00.001-03:002010-05-07T23:53:59.534-03:00"Dois Lados"<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/1600/doislados.2.jpg"><img alt="" border="0" src="http://photos1.blogger.com/blogger/2868/2987/320/doislados.2.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a><br />
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<strong><em>Por Rafael Pesce</em></strong><br />
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<strong><em>Cindy:</em></strong><br />
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Meu encontro perfeito: Uma Noite nem tão fria, nem tão quente, com a luz do luar iluminando o caminho a minha frente. Um cara que marque de me pegar às oito e chegue no horário, mesmo sabendo que irei me atrasar por pelo menos uma hora. Um restaurante com clima intimista, a luz de velas, com Françoise Hardy tocando ao fundo. Um ambiente tranqüilo e charmoso, propício a conversas, risadas e quem sabe um beijo de despedida no final do encontro.<br />
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Tom:</em></strong><br />
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Meu encontro perfeito: Pizza e sexo. Mas a parte da pizza pode ser pulada eventualmente.<br />
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<strong><em>Cindy:</em></strong><br />
Conheci um cara legal nessa semana. Eu estava no Café Vermont tomando um capuccino, quando de repente minha atenção foi desviada para a porta de entrada. Por ela, entrou um sujeito beirando uns 30 anos, com aquele ar de quem não se preocupa com a aparência, mas que quando prestamos atenção, notamos que tudo está exatamente onde deveria estar. O cabelo estava meio despenteado, mas de um jeito bagunçado arrumado. A calça não combinava com a camisa, mas as cores formavam um mosaico que atraia a atenção de todos. A barba estava por fazer, criando um ar meio rústico, o que me deixou com um certo tesão. E ele sentou-se ao meu lado no balcão.<br />
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<em><strong>Tom:</strong></em><br />
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Esta semana conheci uma garota fabulosa. Como é rotina no meu dia, fui tomar um expresso no Café Vermont. Logo quando entrei no lugar, meus olhos encontraram aquela bela mulher. Ela aparentava ter uns 25 anos, era morena e estonteante, daquele tipo “mulher pra casar”. Sentei-me ao lado dela no balcão, e rapidamente pensei em três possíveis assuntos para iniciar uma conversa: desenhos animados, filmes antigos ou o seriado <em>Lost</em>. Havia uma grande chance de ela não gostar de filmes antigos, já que carregava consigo um dvd do <em>Piratas do Caribe</em>. <em>Lost</em> seria um começo meio nerd, e eu podia cair na besteira de contar alguma cena inédita pra ela. Optei por cartoons, já que é do gosto de todo mundo, sem exceção. E funcionou perfeitamente. Depois de discutirmos sobre as aventuras do Tio Patinhas e da Maga Patalógica, peguei o telefone dela, e agora só me restava decidir em qual pizzaria a levaria.<br />
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<em><strong>Cindy:</strong></em><br />
Como é típico dos homens, ele me ligou uma semana depois. Para piorar ainda mais, era final do mês, período em que minha menstruação estava para chegar. Atendi ao telefone e me surpreendi quando ouvi a voz dele do outro lado da linha. Ele notou minha aparente antipatia, e eu fui rápida ao responder que era por causa da TPM. Mal sabem os homens de um dos maiores segredos femininos: a TPM é um mito! Apenas uma desculpa para podermos ficar irritadas. Com este escudo chamado TPM em mãos, pude falar da maneira que queria, sem me preocupar em soar estúpida.<br />
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<strong><em>Tom:</em></strong><br />
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Liguei para ela uma semana depois. Eu confesso, me fiz um pouco, é verdade. Mas pelo jeito que ela atendeu ao telefone, o meu atraso não foi uma boa estratégia. Como costumeiro das mulheres, o motivo de tanto mau humor era a TPM. Tive que usar de muito jogo de cintura para reverter a situação, e depois de muito charme e chalálá, só faltava ela me chamar de “meu amor”.<br />
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<em><strong>Cindy:</strong></em><br />
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Apesar da demora em me ligar, acabei cedendo aos encantos dele. Confesso, ele exercia um grau de fascinação em mim que acabava impedindo qualquer tipo de repulsa que eu pudesse ter. Só teve uma coisa que não abri mão de jeito nenhum, a escolha do restaurante. Não queria passar a noite inteira me empanturrando de pizza, longe de mim. Acabei por sugerir um restaurante francês que tinha aberto na semana passada.<br />
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<strong><em>Tom:</em></strong><br />
Infelizmente, para não decepcioná-la, tive que abrir mão da pizza e encarar um escargot. Passei às 8 horas na casa dela, e escondendo a minha impaciência, esperei por cerca de uma hora até ela finalmente ficar pronta. Pelo menos valeu a pena, ela estava linda, e faria inveja a qualquer mulher que cruzasse conosco pelo caminho. O restaurante não era tão ruim assim, e como a comida não era muita, tivemos tempo de sobra para conversas e mais conversas, até finalmente decidirmos por um passeio noturno pós-janta.<br />
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<em><strong>Cindy:</strong></em><br />
Ele começou muito bem. Chegou na hora marcada para me pegar, e não deu um pio em relação ao meu atraso. Caprichei no visual, usando um vestido novo que estava guardando para uma ocasião especial. O restaurante fazia jus à fama da comida francesa, e a trilha de fundo era excelente, indo de Françoise Hardy até Charles Aznavour. A companhia do meu par era ótima, e passamos momentos descontraídos em meio a conversas e taças de vinho. Depois da janta, resolvemos caminhar por aí, sem destino definido, apenas deixando a luz do luar iluminando nossa frente.<br />
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<strong><em>Tom:</em></strong><br />
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Caminhamos durante horas, mas que pareciam minutos, mas bem que podiam ter sido dias, daqueles que parecem inacabáveis. Como já estava bem tarde, peguei o carro e a levei de volta para casa, meio que na esperança dela me convidar para entrar. Mas mulheres “pra casar” não fazem este tipo de coisa no primeiro encontro, e eu já estava conformado com isso. Nos despedimos com um beijo caloroso e a promessa de um encontro futuro. Depois de deixá-la em casa, passei na pizza hut e comi uma bela fatia de pizza. No final, parece que um encontro com pizza e sem sexo, não foi tão ruim assim.</div>Unknownnoreply@blogger.com8