domingo, julho 11, 2010

Separação


Roberto e Elisa viveram um relacionamento de quatro anos. O desgaste proporcionado pelo tempo e as constantes brigas geradas pelo ciúme do rapaz levou a garota a terminar tudo com ele. Porém, a menina ainda tinha um afeto muito grande pelo ex-namorado e uma estranha amizade continuou entre os dois. Quatro meses se passaram desde a separação, e Roberto controlava diariamente o ciúme que sentia por saber que Elisa estava vendo outra pessoa. Hoje o domingo é de sol, e Roberto e Elisa estão no parque, não mais de mãos dadas como faziam antigamente, mas caminhando lado a lado, tentando disfarçar um certo constrangimento da situação:

- Então Beto, como vai a vida?
- Ah, ta indo...e contigo, tudo tranquilo?
- Sim, já estou melhor daquela gripe que tinha te comentado no outro dia.
- Não era nada sério então?
- Não não, só um pouco de dor de garganta, mas agora está tudo bem mesmo, não precisa se preocupar.
- Mas tu tomou remédio, ta se agasalhando direitinho?
- Sim, a mãe estava me visitando e não deixou faltar nada lá em casa.
- Qualquer coisa que precisar tu sabe que pode me ligar, né?
- Claro, fica tranqüilo.
- E o feriado semana que vem, vai ficar por aqui mesmo?
- Acho que vou visitar minha prima na praia, mas ainda não é certo. E tu?
- Vou ficar por aqui mesmo.
- Alguma festa?
- Ah, não sei, não tenho saído muito pra falar a verdade. Ultimamente minha vida é sair de casa para faculdade,  faculdade para o estágio, e do estágio para casa.
- Hum....esses dias fui naquele restaurante tailandês que costumávamos ir.
- Faz séculos que não vou lá, desde que terminamos pra falar a verdade.
- Hum...Beto...quero saber se tu quer continuar sendo meu amigo ou se é melhor perdermos o contato, sinto muita mágoa quando tu fala comigo.
- Linda, eu queria ser teu amigo, mas parece que simplesmente nossa amizade não existe, nós quase não conversamos mais, não saímos, não nos vemos, não nos ligamos, e eu confesso que quando eu penso que tu tá com outro eu sinto muita mágoa mesmo, não da para esconder esse tipo de coisa...
- Eu sei, mas eu me afasto por achar que é impossível conversarmos e fazermos coisas divertidas juntos, porque sempre vou me achar culpada pelo que aconteceu, talvez isso demore para acontecer Beto.
- Pois é, mas sei lá, podia me ligar de vez em quando, dar um sinal de vida, qualquer coisa. Eu sinto tua falta, mesmo como amiga, mas às vezes se eu não me manifesto parece que eu nem existo mais pra ti.
- Claro que existe Beto, tu sabe que foi e é muito importante pra mim. Mas nossas vidas tomaram rumos diferentes, chegamos numa encruzilhada e cada um foi pra um lado. Vamos tentar melhorar nossa relação de amizade, sem muita mágoa Beto, sem provocar ciúmes ou dor, mesmo que seja difícil, ou então vamos nos afastar de vez...
- Não quero me afastar de ti, mas é que eu fico triste às vezes...
- Eu sei, é por isso que eu sumo, sou culpada.
- Ver fotos tuas com outra pessoa me destrói o coração linda, é triste, mas eu ainda sinto ciúmes...
- Então é melhor nos afastarmos de vez...
- É isso que tu quer?
- Se tudo que eu faço te provoca dor não tem porque a gente querer ser amigos, eu nunca vou esquecer tudo que passamos juntos, e não tem nem como comparar o que vivemos com qualquer outro relacionamento, mas pra mim é difícil, me corrói por dentro, me sentir responsável pela dor de alguém...mas não posso fazer nada...
- Mas eu não quero me desligar de ti...
- Então temos que agir como adultos, nossa relação só vai melhorar o dia que tu me aceitar como amiga, sem esperanças de uma volta...
- Mas eu não tenho mais esperanças, perdi todas...mas isso não implica na relação de eu gostar ou não de ti...
- Então vamos levando aos poucos, podemos mudar e talvez as mágoas irão embora. Isso não acontece de uma hora pra outra.
- Independente de tudo, tu sabe que sempre vai rolar uma ponta de ciúmes, apesar de tu ter acabado comigo aposto que seria estranho se tu me visse com outra mulher.
- Eu sei disso...
- Enquanto não arrumar um outro alguém vou ficar eternamente preso nessa depressão...
- Reserva um tempo pra ti Beto, é o melhor a fazer. Bom, agora eu preciso ir, podemos nos ver amanhã se tu quiser...
- Claro...
- Até mais então! Beijinho!
- Até...tchau...

Roberto não apareceu para encontrar Elisa no outro dia. Depois daquela conversa no parque ele finalmente entendeu que não conseguiria nutrir outro sentimento pela ex-namorada que não fosse o mais puro e intenso amor de homem e mulher. Para ele, a amizade estava fora de cogitação...

5 comentários:

Carolina Tessmann disse...

Gostei muito desse conto, Pesce! Em relação aos diálogos que tu sempre comentar ter dificuldades, achei a conversa dos dois bem leve e de fácil compreensão, apesar de o tema em si não ser...
E é verdade, não é mesmo? Enquando não acabar a afetividade de homem e mulher ou aquele sentimento de posse que fica, é impossível manter uma amizade, por mais superficial que seja. Ou não! O comportamento humano e suas máximas está longe de ser deduzido como uma ciência exata...
Parabéns!

Fabiano Mascarenhas Vianna disse...

O eterno sentimento incômodo de ex... Todos sabem o que é isso. É um dos grandes dilemas do universo. O diálogo está ótimo cara! Muito natural! Parabéns! Este conto é Woody Allenzesco!

Sílvia Beatriz. disse...

ótimo o diálogo sim!! mas às vezes nem arrumando um outro "alguém" a pessoa consegue se libertar dessa depressão.

Katrina disse...

Não precisa ser sempre assim, mas o que há de sa fazer se o amor é algo que não se pode ignorar?

Karine Melo disse...

Que conto lindo, Rafael... adorei!

beijos e boa sexta-feira ;*