quarta-feira, junho 03, 2015

Cecília


Por Rafael Pesce
* Ilustração: Daniel Gonçalves

Pela pequena janela circular o sol adentrava naquele sótão. Minúsculas partículas de poeira trafegavam pela luz, como se estivessem sendo abduzidas para o mundo exterior. Uma cama, desnuda de lençóis e sem o ranger das precárias estruturas de ferro, estava localizada logo na entrada. Um pônei de madeira jazia, imóvel, no outro lado, sem ter mais com quem brincar. A caixa de música, que costumeiramente enchia o ambiente de alegria, trancava-se em solidão. As roupas, antes banhadas pela claridade e pelo vento, estavam esquecidas em um velho armário. Os brinquedos, jogados de forma aleatória, tornavam o chão irregular. Mas no centro de tudo estava ela, Cecília, abandonada pela vida e pela sanidade do pai, que a deixou na escuridão daquele baú.

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