Por Rafael Pesce
* Ilustração: Hafaell Pereira
O ano era 2556. O clima na sala do Imperador Drextos
II era de tensão. À frente do trono, cravejado por diamantes roxos, estava uma
mesa redonda, onde os mais importantes generais, cientistas e conselheiros
imperiais estavam sentados. A ausência de som foi quebrada quando o Imperador
levantou-se. O ouro da extravagante túnica chacoalhou, interrompendo o mórbido silêncio.
Foi o sinal que todos esperavam. Em um grito uníssono todos bradavam com a mão
em sinal de continência: Vida longa ao Imperador! Vida longa ao Imperador! Vida
longa ao Imperador!
- Quietos! Já chega seus vermes! Já faz quase um ano
que estamos no meio dessa guerra contra essa horda de rebeldes que insiste em
não reconhecer o meu poder absoluto. Convoquei essa reunião para acabar de vez
com a baderna que insiste em atrapalhar meus planos. Eu exijo uma solução
imediata para este problema!
O primeiro a se levantar foi o General Horxos,
responsável pelo comando de todas as tropas imperiais. Entre uma gaguejada e
outra encontrou coragem para se manifestar:
- Oh co-co-comandante supremo. Eu, eu...já não sei
mais o que fazer. Mando diariamente nossas tropas combaterem esses insurgentes,
mas quanto mais lutamos mais o inimigo parece se fortalecer. Não importa o que
façamos, os rebeldes parecem sempre estar um passo a nossa frente. Eles não têm
medo, não desistem nunca. Usamos toda nossa força, todo nosso arsenal e parece
que nada os faz desistir. Eles não são simples homens, não sei o que os faz
continuar.
- Tolo! – respondeu o Imperador. Eu não convoquei
esta reunião para escutar desculpas. Estou aqui para ouvir uma solução. Se eles
não entendem por bem a necessidade de nossos altos impostos, que entendam por
mal. Saia daqui, insolente!
Horxos não teve tempo suficiente para abandonar o
recinto. Um gesto foi suficiente para que dois soldados, que até então
permaneciam imóveis na entrada, atravessassem suas lanças laser nos pulmões do
agora ex-general. As risadas de Drextos II ecoaram sozinhas pela sala. O encontro
então prosseguiu:
- Trevor, você era o segundo em comando. O controle de
nossas tropas agora está em suas mãos. O que você pretende fazer para retomar a
ordem?
O novo General em nada lembrava seu antecessor. Era
uma pessoa confiante, que não demonstrava medo e não evitava o olhar penetrante
do Imperador.
- Grato pela oportunidade de mostrar o meu valor, oh
grande Imperador Galáctico! Como todos sabem, temos um arsenal muito mais forte
do que aqueles pobres rebeldes. Eles parecem um bando de ratos. Esmagamos um,
mas no lugar desse, aparecem dois. E isso tudo porque eles têm uma ideia coesa
por trás. Seus líderes conseguem manter o que, inicialmente pode parecer uma
multidão desorganizada, em uma forte arma de repressão. Enquanto não exterminarmos
essas cabeças, não acabaremos com a força por trás desta ideia absurda de
rebeldia.
O Imperador sentou-se no trono e pareceu intrigado
com a afirmação de seu novo general. – O que nos impede de terminarmos de vez
com essas patéticas vidas?
- Infelizmente essa corja rebelde desenvolveu um
escudo defletor capaz de bloquear qualquer ataque proposto por nossas tropas. Existem
apenas cinco desses escudos, e eles estão justamente divididos entre esses
líderes. Ainda não conseguimos descobrir uma maneira de furar esse bloqueio.
- O Imperador Drextos II se levantou exaltado. – Não
acha que é muito cedo para vir com desculpas? Já disse que exijo soluções,
SOLUÇÕES!
Antes que Trevor pudesse responder, uma voz, um pouco trêmula, e já entregando a idade, pediu a palavra. Era o Dr. Strengler, um velho cientista que estava no canto mais distante da mesa.
Antes que Trevor pudesse responder, uma voz, um pouco trêmula, e já entregando a idade, pediu a palavra. Era o Dr. Strengler, um velho cientista que estava no canto mais distante da mesa.
- Caro Imperador, general e demais presentes. Não
precisamos necessariamente matá-los. Como Trevor bem disse antes, sem um ideal
a tentativa de revolta estará morta. Tudo o que precisamos é estancar de vez
esses poços de ideias.
- E como isso será possível? – indagou Drextos II.
Calmamente o cientista respondeu. - Há anos venho
trabalhando em um projeto secreto que recentemente viu a luz do dia. Estava
esperando a oportunidade certa de usá-lo. – O cientista puxou de dentro de uma
bolsa o que aparentava ser um pequeno rifle laser. – Isso, meus caros, não é o
que parece. Em uma primeira olhada pode dar a impressão de ser uma arma letal,
dessas que desintegram o inimigo. Mas não, não é isso que ela faz. Ela é o que
eu chamo de Nápad. E qual sua utilidade, vocês me perguntarão. Respondo: Ela extrai
ideias.
Todos os presentes na sala de reunião arregalaram os
olhos. Um burburinho de palavras indecifráveis se criou no ambiente.
SILÊNCIO!!! – gritou o Imperador. Continue a sua explicação Dr. Strengler.
- Com sua licença, oh grande Imperador. Tudo o que
preciso é programar o dispositivo para extrair toda e qualquer ideia relativa à
rebelião. Como ela não é uma arma de ataque, garanto que não há escudo no mundo
capaz de impedir a sua funcionalidade. Basta apontar, apertar o gatilho e
pronto. O pensamento será apagado da mente do inimigo e a possibilidade de
regenerar tal ideia ficará impossibilitada, graças aos efeitos do Nápad.
Em meio às gargalhadas eufóricas o Imperador repetia:
- Ótimo doutor, ótimo, ótimo! Dessa maneira iremos aniquilar para sempre essas
ideias ridículas.
- Meu caro Imperador, ideias não podem ser
destruídas. Como eu disse anteriormente, o meu aparelho as extrai, não as
elimina. Uma vez arrancada ela tomará uma forma física e ficará retida nesta
cápsula redonda. Não se engane com o tamanho, se este aparentemente inofensivo
receptáculo for perdido, as ideias poderão retornar para seus donos. Para evitar
o pior, sugiro a criação de uma sala blindada, com toda a segurança necessária
para que esses pensamentos jamais voltem a ter vida.
Drextos II finalmente sorriu aliviado, esvaziando a tensão
que ainda preenchia o ambiente. Olhou para todos e falou: - Um cemitério de
ideias...gostei! Construam essa tumba de aço imediatamente!
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