sábado, setembro 02, 2006

"Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção"













Por Rafael Pesce


Prefácio: Algumas idéias e inspirações deste conto vieram da fabulosa música "Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção", de Erasmo Carlos.


Meus dias eram longos e entediantes. Faz mais de três anos que trabalhava na biblioteca central da cidade, catalogando livros e mais livros, dividindo-os por autor, editora, gênero e ano. Eu posso dizer que já estava acostumado com a monótona vida de um bibliotecário. Mas também não podia reclamar de tudo. Eu tinha tempo de sobra para ler o livro que eu quisesse, e a tranqüilidade do ambiente, aliada com algumas pílulas, ajudavam a acalmar minha hiperatividade. Porém, meu coração que outrora batia lentamente e a ritmos mansos, foi abalado por uma mulher de tamanha beleza, que faria qualquer pessoa do local trocar as páginas de um livro por um sorriso dela. Fiquei atônito com aquela presença, e resquícios da minha hiperatividade pareciam dar sinais de volta. Primeiramente eu pensei: “é só hoje, amanhã ela não estará aqui e tudo voltará ao normal”. Mas eu estava redondamente enganado. A moça dos meus sonhos começou a freqüentar a biblioteca diariamente, sempre com a mesma rotina. Ela chegava por volta das 13 horas e ia diretamente para a seção de literatura estrangeira. Pela posição que ficava a minha mesa, não era possível identificar que livros especificamente ela olhava todos os dias. Por volta das 17 horas, perto do horário de fechamento da biblioteca, ela selecionava alguns livros e se dirigia à mesa da Dona Vera, a funcionária responsável pela retirada das obras literárias. Todos os dias, ao fazer este trajeto, ela passava por mim, me obrigando a sentir o suave perfume que exalava do seu corpo. Ela não olhava para os lados, parecia extremamente concentrada, caminhando de um modo decidido. Esse certo desprezo acabava por despertar ainda mais minha paixão, e eu ficava pensando no que poderia fazer para conseguir pelo menos um minuto de atenção daquela mulher. Os dias passavam lentamente, e minha agonia apenas aumentava. Não ousaria sair do meu posto para ir importuná-la com um papo banal, até por que levaria uma bronca do meu chefe e provavelmente ganharia um olhar de ódio daqueles olhos concentrados na leitura. Resolvi tentar descobrir um jeito de chamar a atenção dela. Meu primeiro passo foi falar com a Dona Vera depois do expediente. Tentando disfarçar o meu entusiasmo, perguntei para a funcionária que livros que estavam sendo retirados pela nossa mais nova freqüentadora. Era difícil enganar a experiente senhora, e a primeira coisa que ela disse para mim foi um sonoro “você está apaixonado por ela, não?”. Não tive como me esquivar, e nem teria por quê. A antiga bibliotecária era dona de um bom coração, e meus desejos e segredos ficariam bem guardados com ela. Depois de uma rápida consulta no computador, obtive das mãos da bondosa senhora uma folha impressa com todos os livros retirados pela minha querida. Coincidentemente, todos eles se encaixavam na categoria suspense e mistério. A lista começava em Agatha Christie, passando por Sidney Sheldon e Edgard Wallace, e terminando com Stephen King. O que será que ela estava fazendo com todos estes livros de mistério? Poderia ser alguma atividade para a faculdade, ou quem sabe um trabalho de conclusão sobre livros de suspense, ou melhor ainda, ela poderia estar escrevendo um livro e precisando apenas de inspiração. Não dormi direito neste dia, tamanho as dúvidas e curiosidades que rondavam meus pensamentos. Ao levantar no dia seguinte, tive que apelar para o café (ele aumenta e muito minha hiperatividade) para me manter acordado durante o trabalho. No começo da tarde lá estava a minha bela novamente, desfilando seu charme e fazendo eu me sentir invisível. Estava difícil conter meus sentimentos, queria e muito fazer algo, e para me manter ocupado passei o resto do dia escrevendo versos e versos sobre ela. Acabei com o estoque de rascunho que havia em minha mesa, e depois de tudo isso, não achei minhas palavras merecedoras da beleza dela, e resolvi guardar as poesias para mim. Perto das cinco da tarde, a querida já se preparava para ir embora, e esforcei-me ao esboçar o meu melhor sorriso, mas novamente fiquei com a sensação de “sou obsoleto”. Porém, neste dia, notei que as rápidas palavras que normalmente ela e Dona Vera trocavam, demoraram um tempo maior que o usual. Ao final do expediente, não contive minha curiosidade e perguntei para a senhora sobre o que elas conversaram. Ela me respondeu dizendo: “Amanhã será o último dia dela nesta biblioteca, pelo menos por um bom tempo.” Olhei com uma cara de decepção, e a funcionária prosseguiu me explicando: “se lembra das tuas suposições sobre o que ela estava fazendo aqui? Uma delas estava certa. Ela é uma escritora, e está escrevendo o seu primeiro livro. Mas ela está no meio de uma crise de falta de inspiração, por isso resolveu recorrer a autores renomados pra ver se recupera o dom perdido. Outra coisa, ela me disse que vem amanhã mesmo só porque quer retirar um último livro, o “por que não pediram a Evans”, da Agatha Christie". Neste dia, tive mais uma noite de sono tumultuada. Revirei-me a madrugada inteira pensando no que fazer para chamar a atenção daquela mulher. Quando acordei, finalmente havia pensado em uma solução. Ao chegar à biblioteca, a primeira coisa que fiz foi me dirigir à seção de literatura estrangeira. Procurei o livro que o meu amor platônico viria pegar, e ao abrir a primeira página, coloquei um bilhete com os seguintes dizeres: “vou ficar nu para chamar sua atenção”. Devolvi o livro à estante e retornei para minha mesa, apenas esperando a hora da chegada dela. À uma hora em ponto, sem um segundo de atraso, ela entrou na biblioteca e rumou cegamente em busca do livro que lhe faltava. Dois minutos depois, ela iniciou sua caminhada em direção à mesa de Dona Vera, mas no meio do trajeto, abriu a primeira página do livro e o bilhete que eu havia colocado caiu. Ao ajuntar o recado do chão e se deparar com a mensagem que lá estava, ela fez uma cara de muito espanto, e com um ar confuso amassou o papel e o colocou no bolso, já que não havia uma lixeira por perto. Missão cumprida. Na minha cabeça ela havia entendido o recado. Enquanto minha bela preenchia a ficha de retirada do livro, me levantei calmamente e comecei a me dirigir até onde ela estava. Tranquilamente fui me despindo, primeiro tirando os sapatos e chutando-os para um canto, depois livrando-me das calças (claro que tive que dar um rápida parada, senão levaria um belo tombo), e em seguida continuei o caminho desabotoando minha camisa. Em pouco tempo estava totalmente nu, e de longe já avistava a cara de “não estou acreditando” que Dona Vera fazia. Assim que a moça dos meus sonhos virou e me viu naquele estado, pronunciei as seguintes palavras: “agora você sabe que eu existo!”.



15 comentários:

Anônimo disse...

muito fofo o conto. me prendeu até a última linha. mto embora tu ainda tenha alguns probleminhas com os porquês. vale a pena revisar qdo usa cada um deles.. hehehe.. (q cruel q eu sou).. bjs ;***

*** A Girl with a Golden Touch *** disse...

Primeira a comentar!
Não há muito a ser dito, a não ser que é uma pena que os contos são apenas ficção!

Tell Her No disse...

mais um ótimo conto!

sempre quando leio os seus contos fico morrendo de vontade de escrever... mas infelizmente não sai nada! hahahaha!

Anônimo disse...

O final foi surpreendente, mas esse cara é um exibicionista, será que era realmente necessário ele fazer isso? Cara de atitude!!
Ele foi demitido depois dessa, nao??
hahaha

Anônimo disse...

Valeu Rafael,
grande conto de um grande cara. Abraço, velho.

Anônimo disse...

Hahahahhaahaha adoreeeeeeeeei!
Muito bom,muito bom mesmo!
Mas deixa desejando uma continuação,que o top 5 rei do mistério não irá revelar...deixarei para minha imaginação mesmo.
Beijos,querido

Anônimo disse...

Um pouco triste né!? Fiquei com pena do bibliotecário...
Um belo conto, "graças ao Erasmo"...
Beijão!

Anônimo disse...

Rafa.. mais cafés e mais contos.. ñ tinha lido ainda, agora vou ler mais. tão bom qto café.

abrços

Anônimo disse...

Bom saber que os homens ainda acreditam em contos de fada, e que são muito mais corajossos, não precisando de cavalos brancos ou espadas, apenas desnudando-se para netregarem-se completamente...

Anônimo disse...

muito bom!! adorei! :)
continuaçao já!

Anônimo disse...

Cara, adoro os detalhes de seus contos. Os meandros, as caracteristicas dos personagens.Tipo o lance do café, a hiperatividade, o bloco de rascunhos que ele detonou em alguns segundos...Estes detalhes enriquecem e nos fazem imaginar a cena, o local, a atmosfera. Muito bom man. O unico porém que achei foi a fala da velhinha, quando ela fala “você está apaixonado por ela, não?”. Eu acho, que seria super obvio ela ter percebido que o cara já estava apaixonado, mas uma velhinha dessas nunca fala o que sente. Talvez até pelo desgante, pelo "saco cheio", tipo "pfff" jovens.." Na minha visão, ela pensaria isso e simplesmente falaria: "- Porque o interesse nisso" ?Com aquele ar de "já percebi que você está tipo uma galinha mole por ela, pffff! jovens..." ahhaah
Imaginei ela tipo aquela velha do filme "Nina 7 pecados" sabe? Já viu ?Inspirado no livro "Crime e Castigo".
Cara, mas tá demais! Sou seu fã!!
Escreve mais!
Coloquei seu blog na minha lista de sites na pagina links do meu site.Tudo bem?
Abração!

www.fabz.com.br
www.crepusculo.com.br

Anônimo disse...

Só espero não ter que fazer o mesmo que o bibliotecário

Anônimo disse...

parabéns, rafa....
agora vou até freqüentar o teu blog... hehe
bjo

Anônimo disse...

Muito bom... poderia ser mais uma das histórias da minha vida... sabe, eu faço dessas... mas eu não mando bilhetinho, falo na cara. Só não gostei do "ajuntar", doeu um pouquinho.

Anônimo disse...

ranghetti:
muito boa a historia man!
eu teria coragem de fazer oq ele fez
auuahuahuaa
yeah man!
t+