quarta-feira, agosto 23, 2006

"Dois Lados"



















Por Rafael Pesce


Cindy:

Meu encontro perfeito: Uma Noite nem tão fria, nem tão quente, com a luz do luar iluminando o caminho a minha frente. Um cara que marque de me pegar às oito e chegue no horário, mesmo sabendo que irei me atrasar por pelo menos uma hora. Um restaurante com clima intimista, a luz de velas, com Françoise Hardy tocando ao fundo. Um ambiente tranqüilo e charmoso, propício a conversas, risadas e quem sabe um beijo de despedida no final do encontro.

Tom:


Meu encontro perfeito: Pizza e sexo. Mas a parte da pizza pode ser pulada eventualmente.

Cindy:
Conheci um cara legal nessa semana. Eu estava no Café Vermont tomando um capuccino, quando de repente minha atenção foi desviada para a porta de entrada. Por ela, entrou um sujeito beirando uns 30 anos, com aquele ar de quem não se preocupa com a aparência, mas que quando prestamos atenção, notamos que tudo está exatamente onde deveria estar. O cabelo estava meio despenteado, mas de um jeito bagunçado arrumado. A calça não combinava com a camisa, mas as cores formavam um mosaico que atraia a atenção de todos. A barba estava por fazer, criando um ar meio rústico, o que me deixou com um certo tesão. E ele sentou-se ao meu lado no balcão.

Tom:

Esta semana conheci uma garota fabulosa. Como é rotina no meu dia, fui tomar um expresso no Café Vermont. Logo quando entrei no lugar, meus olhos encontraram aquela bela mulher. Ela aparentava ter uns 25 anos, era morena e estonteante, daquele tipo “mulher pra casar”. Sentei-me ao lado dela no balcão, e rapidamente pensei em três possíveis assuntos para iniciar uma conversa: desenhos animados, filmes antigos ou o seriado Lost. Havia uma grande chance de ela não gostar de filmes antigos, já que carregava consigo um dvd do Piratas do Caribe. Lost seria um começo meio nerd, e eu podia cair na besteira de contar alguma cena inédita pra ela. Optei por cartoons, já que é do gosto de todo mundo, sem exceção. E funcionou perfeitamente. Depois de discutirmos sobre as aventuras do Tio Patinhas e da Maga Patalógica, peguei o telefone dela, e agora só me restava decidir em qual pizzaria a levaria.

Cindy:
Como é típico dos homens, ele me ligou uma semana depois. Para piorar ainda mais, era final do mês, período em que minha menstruação estava para chegar. Atendi ao telefone e me surpreendi quando ouvi a voz dele do outro lado da linha. Ele notou minha aparente antipatia, e eu fui rápida ao responder que era por causa da TPM. Mal sabem os homens de um dos maiores segredos femininos: a TPM é um mito! Apenas uma desculpa para podermos ficar irritadas. Com este escudo chamado TPM em mãos, pude falar da maneira que queria, sem me preocupar em soar estúpida.

Tom:

Liguei para ela uma semana depois. Eu confesso, me fiz um pouco, é verdade. Mas pelo jeito que ela atendeu ao telefone, o meu atraso não foi uma boa estratégia. Como costumeiro das mulheres, o motivo de tanto mau humor era a TPM. Tive que usar de muito jogo de cintura para reverter a situação, e depois de muito charme e chalálá, só faltava ela me chamar de “meu amor”.

Cindy:

Apesar da demora em me ligar, acabei cedendo aos encantos dele. Confesso, ele exercia um grau de fascinação em mim que acabava impedindo qualquer tipo de repulsa que eu pudesse ter. Só teve uma coisa que não abri mão de jeito nenhum, a escolha do restaurante. Não queria passar a noite inteira me empanturrando de pizza, longe de mim. Acabei por sugerir um restaurante francês que tinha aberto na semana passada.

Tom:
Infelizmente, para não decepcioná-la, tive que abrir mão da pizza e encarar um escargot. Passei às 8 horas na casa dela, e escondendo a minha impaciência, esperei por cerca de uma hora até ela finalmente ficar pronta. Pelo menos valeu a pena, ela estava linda, e faria inveja a qualquer mulher que cruzasse conosco pelo caminho. O restaurante não era tão ruim assim, e como a comida não era muita, tivemos tempo de sobra para conversas e mais conversas, até finalmente decidirmos por um passeio noturno pós-janta.

Cindy:
Ele começou muito bem. Chegou na hora marcada para me pegar, e não deu um pio em relação ao meu atraso. Caprichei no visual, usando um vestido novo que estava guardando para uma ocasião especial. O restaurante fazia jus à fama da comida francesa, e a trilha de fundo era excelente, indo de Françoise Hardy até Charles Aznavour. A companhia do meu par era ótima, e passamos momentos descontraídos em meio a conversas e taças de vinho. Depois da janta, resolvemos caminhar por aí, sem destino definido, apenas deixando a luz do luar iluminando nossa frente.

Tom:

Caminhamos durante horas, mas que pareciam minutos, mas bem que podiam ter sido dias, daqueles que parecem inacabáveis. Como já estava bem tarde, peguei o carro e a levei de volta para casa, meio que na esperança dela me convidar para entrar. Mas mulheres “pra casar” não fazem este tipo de coisa no primeiro encontro, e eu já estava conformado com isso. Nos despedimos com um beijo caloroso e a promessa de um encontro futuro. Depois de deixá-la em casa, passei na pizza hut e comi uma bela fatia de pizza. No final, parece que um encontro com pizza e sem sexo, não foi tão ruim assim.

8 comentários:

Anônimo disse...

Adorei como fez essa jogada de pontos de vista dela e dele. Tão real!!
Encontro perfeito da garota: 7 linhas
Encontro perfeito do cara: uma linha e 1/2
Parabéns, Rafa!!!
Próximo conto, por favor!!!

Anônimo disse...

que emocionante,uma passagem do conto foi de minha autoria(modificada,mas fui eu que disse)!
Hohoho.Vou desvendando os mistérios femininos pra ti pouco a pouco,um dia tu vai ser um expert!Tudo bem que eu ainda não sei muitos,e outros eu não entendo,mas enfim..eu vou te contando!
Tá ótimo o conto,como de costume!
beijos querido!

*** A Girl with a Golden Touch *** disse...

Depois de Martha Medeiros apresento aos senhores Rafael Pesce, vulgo Ringo.
Ooops, brincadeira, mesmo porque Martha Medeiros pra mim é ofensa!
Legal este conto, mas o meu favorito continua sendo o mesmo. Só perdeu pontos porque TPM existe hehehehe.
Quanto ao DVD eu vou esperar. E esta festa, putz... é tu e a Anahy que tentam me fazer sentir culpada por não ter ido em nenhuma. Mas na última, que eu poderia ter ido não fui convidada hahahaha! beijos

Anônimo disse...

Concordo em genero, número e grau... sem polêmicas... só não concordo com a parte da TPM fictícia. Se ela não existisse todos nós seríamos mais felizes (homens e mulheres). E eu não me sentiria tão retardada quando estou com ela e começo a chorar desesperada por causa de um comercial de shampoo...
Outra coisa... as TPM's são reais... as dores de cabeça é que são fictícias... nenhuma mulher em sã consciência deixa de transar por causa de dor de cabeça... Isso sim é desculpe...rs

Mesmo assim, ADORE...

:****

Anônimo disse...

Muito bom. Alias, fico feliz de ver meu comentario no inicio e no fim do conto, tornando, entao, o climax da estoria...

keep doing de good work, sucka!!!

Anônimo disse...

Mesmo sendo homem tu conseguiu expressar o pensamento feminino muito bem, tá quase nos entendendo...hehe...sério, quase!
E continue nessa linha de affair que vais longe...adorei, todos!
Beijão Rafa!!

Anônimo disse...

Resposta do Conto do garotas.complicadas:

Bem, você me parece uma pessoa decente e legal... um daqueles caras que ainda sabem o valor de um beijo na testa ou de uma flor roubada... E isto se chama excessão a regra! rs...

kisses and laughs!!!

Anônimo disse...

achei que tu fosse qiebrar o clima no final colocando:
"depois de deixá-la em casa, passei na pizza hut e comi uma bela fatia de pizza, me esquentando para passar na Tia Carmém logo após."
haha

ainda bem que não o fez.
mas, tá muito legal esse conto.
(Y)
e, no final, as mulheres sempre conseguem o que querem...