terça-feira, janeiro 02, 2007

"Como Dois e Dois São Cinco"






















Por Rafael Pesce

Tente definir o amor. Conseguiu? Provavelmente uma infinidade de clichês e frases prontas vieram à sua mente. Mas invariavelmente, todas as respostas convergem para um único ponto: o amor é irracional. Ele não tem lógica, e quem sabe é por isso que recorremos a frases prontas para tentar explicá-lo, já que é muito mais fácil do que gastarmos horas e horas a fio tentando encontrar uma solução que nos satisfaça.

Conformar-se com a situação descrita acima é o que pessoas normais deveriam fazer, mas a questão é que a normalidade me abandonou há muito tempo atrás. A loucura e a insanidade tomaram o seu lugar, ainda mais depois que passei a cursar Matemática na faculdade. A minha tentativa de mudar tudo começou em uma noite de insônia, mais ou menos dois meses atrás...

Dor nas pernas, inquietação, calor, um verão insuportável. Doce ilusão daquelas pessoas que acham que só porque eu moro no sul eu vivo em um lugar onde o frio é constante por 12 meses. O verão daqui é infernal, e o que parece aos olhos dos outros ser um pedaço da Europa no Brasil transforma-se em um forno, cujo botão de desligar está estragado, pelo menos até o outono chegar. A questão é que a falta de sono tem uma conseqüência inevitável: tempo de sobra para pensar. Não posso negar que é até uma coisa boa, mas as penitências no outro dia são terríveis: dor no corpo, indisposição e consumo exagerado de cafeína. Durante uma noite produtiva de insônia, pensando nos caminhos tortos da paixão, tive a brilhante idéia de tentar transformar o amor em uma ciência exata e racional. Afinal, estava cursando Matemática, para alguma coisa isso deveria servir. Estamos no século 21, com toda a tecnologia que nos cerca já deveriam ter arrumado algum jeito de decifrar o DNA do amor. Eu estava solteiro havia mais ou menos uns 7 meses, e meu último relacionamento havia sido um pouco traumático. Para variar, a minha ex me culpava pelo fim do relacionamento, porque segundo ela eu era ciumento demais e não a deixava respirar. Tudo bem, eu entendi o recado e conduzi a bola para frente. O problema é que não cheguei a gol algum, e agora estou aqui deitado na cama, ainda pensando numa solução lógica para entender o amor. Bom, para começar, nada melhor do que pegar uma folha em branco. Aquela infinidade de espaço, apenas esperando para ser preenchido com traços, cores e letras, que podem conduzir à uma genialidade ou apenas mais uma inutilidade besta. Acho que um bom começo é fazer uma retrospectiva, afinal, “clichemente” falando, é com o passado que aprendemos nossos erros. No papel em branco, desenhei uma tabela, e em seguida anotei o nome das 3 namoradas que tive ao longo dos meus 23 anos, uns 5 affairs duradouros que me marcaram, e mais o nome de 12 mulheres que estavam na categoria de affair passageiro. No total, 20 nomes, alfabeticamente ordenados em uma coluna no lado esquerdo da folha. Do lado direito, uma outra categoria com o nome de “erros cometidos”. Anotei todas as falhas que protagonizei durante praticamente toda a minha vida amorosa, tudo isso na tentativa de fazer a equação perfeita, que proporcionasse elevar minhas habilidades a um nível de par perfeito. Estavam lá desde “entregar flores, não só no começo do relacionamento, mas periodicamente”, passando por “ser compreensivo e agüentar os esculachos no período de TPM”, até “jamais revelar suas fantasias sexuais que envolvam mais de uma mulher”. Confesso que uma folha foi pouco, e depois de encher três páginas com anotações, me senti mais confiante para encarar qualquer encontro.

Não foi preciso esperar muito para por a minha teoria em prática. Havia mais ou menos uma semana que a Luciana, minha colega de faculdade, me olhava com um olhar “maldoso”, apenas à espera de um convite. E ele veio, na forma de um sutil pedido de “gostaria de sair comigo?”

Na mesma noite, eu e a Lu nos dirigimos até o Café Vermont, um simpático lugar para um encontro. De acordo com minhas anotações, este tipo de local era um dos preferidos das mulheres. Era pequeno e aconchegante, charmoso, quieto, discreto e com opções de iguarias não calóricas para o corpo feminino. De acordo com as regras, eu deveria evitar churrascarias, botecos, pizzarias e afins, e foi isso que eu fiz indo ao Vermont. Seguindo a cartilha coerentemente, escolhi uma mesa bem localizada, e enquanto puxava a cadeira para a Lu sentar, disse o quanto ela estava bonita, e a deixei falar bastante, evitando o egocentrismo que às vezes me assola.

- E tu sabe, eu nunca gostei mesmo daquela aula, o professor sempre me pareceu meio patético. Mas também pode ser um pouco de birra minha sabe, aquela coisa de que “não gosto dele por que ele me deu bomba na prova” e blá blá blá...
- Aham!
- E tu sabe, também teve aquela vez...blá blá blá

Depois de um bom tempo agüentando o papo furado dela, resolvi tentar me impor aos poucos, e ir incrementando alguns assuntos um pouco mais abalizados.

- Poxa, e o Saddam foi enforcado né? Agora só falta o Bush.
- Pois é, eu vi no You Tube. Mas sabe, ontem eu fui no shopping e vi um vestido lindo, mas meu cartão ficou em casa...blá blá blá
- Aham, falando em compras, as vendas nesse ano aumentaram 25% em relação ao natal passado né.
- Deve ser, tava tudo cheio, mas então depois de ver o vestido eu resolvi procurar um sapato que combinasse com os brincos que eu tinha comprado na semana passada...blá blá blá

Egocentrismo é uma coisa, mas o papo dela já estava virando palhaçada. Cansado da conversa, e vendo que meu livro de regras não se aplicava ao exemplar feminino que estava postado em minha frente, resolvi perder as estribeiras e ir ao banheiro. Pelo menos era o que o meu par pensava. O toalete ficava a esquerda, mas eu tomei o caminho da direita, aquele que dava direto para a rua, e consequentemente minha liberdade. Antes de me você me chamar de algum nome de baixo calão, reitero que deixei o dinheiro da conta com o garçom, logo a Lu não teve que desembolsar nada pela noite “inesquecível”. Voltei para casa caminhando calmamente, com o olhar levemente inclinado para cima, de uma maneira que eu pudesse apreciar o céu estrelado ao mesmo tempo em que desviava dos postes que importunavam o meu caminho. Depois deste encontro, cheguei à conclusão de que o Caetano Veloso tinha razão, 2 + 2 são 5. O amor não é uma ciência exata, é um sentimento torto, que não nos apresenta um caminho ao qual seguir. Por isso, o melhor que tenho a fazer agora é abandonar a planilha e a calculadora e seguir a minha vida, quem sabe em alguma curva eu encontre o meu denominador comum.

8 comentários:

Fabiano Mascarenhas Vianna disse...

Cara, este tema me lembrou do filme "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça", do Tim Burton. No filme, o johnny deep faz o papel de um detetive cético, matemático que vai até o vilarejo decifrar o tal enigma, atraves dos olhos da razão e da ciência. E eu imaginava que seria realmente decifrado, mas não foi, Pois se tratava de uma aberração fantasiosa no final. Achei isso muito legal, pois o autor conduziu muito bem a história, como você, a ponto de acreditarmos haver uma explicação racional para tudo o que acontece. uaehauheuehue
Muito legal este tema man, e acho que dá pano para manga para muitas outras histórias. Né ?

Anônimo disse...

As listas perseguem heheheh
Te digo uma coisa: acho ótimo que o amor não seja uma ciência exata... Por que tudo tem que ter explicação?!
Bjones

Anônimo disse...

Que bom que voltou a escrever!!!
eu nao sei o que dizer, acho q ja te disse pelo msn.
adoro como vc escreve. adoro suas historias...
só te peço pra nao ficar muito tempo sem publicar algo aqui, ok?

Anônimo disse...

Adorei esse texto,o meu preferido até então!


E abomino essa nossa mania de explicação.Tudo bem que eu tb tenho,mas muitas vezes ela estraga as coisas.
Ah,e eu não aguento mais esse forno do RS tb!
beijos,querido!

*** A Girl with a Golden Touch *** disse...

Ahã tá... vou te dar um desconto... ficarei pensando que tu tá assim porque está de férias! Vamos ver como tu lida com críticas. Na minha opinião o texto começou mais ou menos... de repente ficou legal (a parte dos erros é bem boa) e depois... bem, o depois eu deixo pra lá! beijão

Anônimo disse...

MENINO!!!!!!!!!!!!
que conto!!!!
tô aqui sorrindo e rindo também...
eu desisti de entender o amor...aff...
adoro/odeio essas insônias produtivas... mas esta tua foi incrível!!!!
este produto está na lista dos meus super favoritos!!!
na minha modesta opinião ele está ótimo...
ah.... o clima do pará é muuuuuuuuuuuuuuuuuito pior.... lá sim são 12 meses de calor infernal!!!

bjoooos

Anônimo disse...

ranghetti:
o amor é estranho...
yeah
t+man!

Anônimo disse...

só um matemático para fazer uma listinha dessas! ai meu Deus !! hahahaha
relacionamentos exigem FLEXIBILIDADE não formulas mágicas que alterando um "x" e um "y" ali e tudo sai bem =) Mas todo mundo procura uma formula magica dessas as vezes né? (talvez num momento de desespero ? haha)
Vê se nao deixa mais ngm sozinha no restaurante, muito feio, por mais que a pessoa seja o cumulo da futilidade... PACIENCIA talvez seja a substituta da FLEXIBILIDADE nesses casos hahahaha!!

beijão! e boa sorte matematico do amor hehehe ;D